Autora:  Alessandra Diehl

Sobriedade é uma forma de renascimento e todas as dificuldades enfrentadas durante o tratamento são transformadas em fonte de vida e saúde. É assim que a abstinência é encarada pelos dependentes químicos em recuperação. O cantor Elton John tem consciência de que a sobriedade é realmente uma vida nova e, por isso, celebra dois aniversários por ano: a data em que veio ao mundo e aquela em que se deu a chance para começar de novo. Afinal, o convívio no mundo das drogas, a dificuldade de ser reconhecido e validado em sua família de origem e lidar com sua identidade sexual e orientação sexual quase lhe tiraram a vida num momento em que tentou suicídio.

Jovens de minorias sexuais estão em maior risco de ideação suicida, tentativas de suicídio e comportamentos de autoagressão. As probabilidades de jovens LGBTQIA+ tentarem suicídio são aproximadamente 2 a 7 vezes maiores do que as probabilidades para os heterossexuais ou seus pares cisgêneros. A metade dos jovens transgêneros já pensou em suicídio. Mais de 40% dos jovens transgêneros relatam ter tentado suicídio. Estudos com população adulta LGBTQIA+ também têm mostrado que a questão do suicídio é uma temática que segue sendo importante nesta população. A depressão afeta gays em taxas mais elevadas que a população geral, e frequentemente com mais problemas graves para aqueles gays que permanecem “no armário”, ou seja, aqueles que não conseguiram assumir a sua orientação homoafetiva para seus pares, seus familiares e para a sociedade em geral.

Esta expressão em inglês adaptada para o idioma português quer dizer ‘sair do armário’. Refere-se à experiência de alguns; mas não de todos gays e lésbicas; quando exploraram ou assumem o seu status homossexual para si e para seus pares, familiares tentando conciliá-lo a socialização anterior. O processo de “sair do armário” para si e para os outros consiste em várias etapas de desenvolvimento que vão do sentimento inicial de ser diferente, ao despertar do desejo por pessoas do mesmo sexo, à auto identificação até a revelação que varia de acordo com as experiências e trajetórias dos indivíduos em diferentes velocidades e circunstâncias.

Este parece ser um dos momentos mais difíceis e propícios ao uso de álcool e outras drogas e com riscos de maior possibilidade de manutenção deste uso ao longo da vida de muitos gays, lésbicas, bissexuais e transexuais. O uso de drogas pode servir como um alívio “mais fácil”, provendo aceitação da orientação sexual e mais importante, fornecendo “conforto” que muitas vezes não está presente na família, na escola, no ambiente de trabalho ou na sociedade como um todo. O uso de drogas pode auxiliar o processo de socialização e a realização daquilo que se acha ser “proibido”. Muitos gays podem ter suas primeiras experiências sexuais sob a influência de álcool e outras drogas. Para muitos gays e lésbicas, esta associação entre uso de substâncias dentro de um contexto para lidar com questões de orientação sexual e outras dimensões da sexualidade podem persistir, assim como podem tornar-se parte do processo de ‘sair do armário’ e da formação pessoal e social da identidade.

Talvez o “fundo de poço” com a tentativa de suicídio tenha sido o estopim para que Elton John procurasse ajuda. No dia 30 de julho deste ano de 2022, ele comemora 32 anos de sobriedade Elton John encontrou em Alcoólicos Anônimos (AA) um lugar seguro, sem julgamentos quanto ao seu desejo sexual/amoroso uma porta sempre aberta para poder voltar. Alcoólicos Anônimos (AA) é um dos grupos de mútua ajuda pioneiros em percebera necessidade da criação de “grupos temáticos” ou dirigidos para o público LGBTQIA+. No livro intitulado “The History of Gay People in Alcoholics Anonymous: from de beginning”, o autor Audrey Baden (2007) relata esta trajetória desde a formação de um dos primeiros grupos de AA para homossexuais masculinos fundado em Boston em 1949. Atualmente, existem muito mais de 1,800 reuniões de AA para gays por semana nos Estados Unidos da América (EUA) e grupos de AA para gays em mais de 60 cidades de outros países.

Que a atitude do astro seja exemplo e uma influência positiva para muitos gays e lésbicas e trans usuários de álcool e drogas mundo afora. Elton John é exemplo de superação, é exemplo de que a recuperação em longo prazo existe e que é possível ser feliz com sua orientação sexual, ter uma família com filhos e um marido companheiro de fato em sobriedade.

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