Por Alessandra Diehl

As bebidas energéticas estão emergindo como uma ameaça à saúde pública, uma vez que seu consumo tem aumentado dramaticamente nos últimos anos, principalmente, entre jovens adultos e adolescentes, os quais representam o público alvo de propagandas para a venda destas bebidas, dado ao seu sabor açucarado e efeito estimulante.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define bebidas energéticas como aquelas capazes de oferecer aos usuários um “extra de energia” relacionado com os seus ingredientes (cafeína, aminoácidos, extratos de ervas, carboidratos e vitaminas) todos os quais são comercializados como energizantes e estimulantes. Além disso, a mesma categoria de bebidas energéticas também inclui bebidas esportivas, refrigerantes, bebidas nutracêuticas e suplementos alimentares. Muitas dúvidas ainda permanecem entre especialistas e pesquisadores sobre os problemas de saúde que podem surgir em decorrência do uso de bebidas energéticas e parece ser um provável problema de saúde ainda a ser muito mais explorado, não só do ponto de vista físico, mas também psicológico.

A taurina é um dos principais ingredientes utilizados nestas bebidas energéticas. No entanto, os efeitos adversos desta substância e outras nela contidas como cafeína, por exemplo não são ainda totalmente conhecidas. Desde a difusão inicial de bebidas com cafeína, seu aspecto regulatório sempre apresentou algumas deficiências em muitos países devido à falta de conhecimento sobre os efeitos fisiológicos produzido pelas substâncias utilizadas na fabricação, comprometendo assim o nível de segurança em sua composição. A literatura já começa a sinalizar alguns achados relacionados ao consumo destas bebidas tais como: exacerbação de ansiedade, virada maníaca em portadores de transtorno afetivo bipolar, convulsões e até mesmo problemas comportamentais (aumento da impulsividade e hiperatividade) e de humor foram correlacionados ao uso de bebidas energéticas.

Acredita-se que o abuso de energéticos possa estar ligado, principalmente, ao consumo de álcool misturado com bebidas energéticas e, subsequente, comportamentos de risco entre os adolescentes e jovens. Pesquisa feita com estudantes de Tel Aviv em Israel mostra que quase 40% dos alunos que experimentaram uma bebida energética em um momento ou outro da vida e o fizeram misturado com álcool. Os alunos deram várias razões para isso, desde o gosto até a estimulação. É importante ressaltar que o conhecimento relatado dos efeitos potencialmente perigosos da combinação não esteve associado a uma menor inclinação para absorvê-la. Isto nos indica que a percepção de riscos destes jovens para os eneregéticos é muito baixa.

Essa combinação (álcool e energéticos) é, de fato, uma importante e relativamente nova preocupação de saúde pública. Os perigos da ingestão de álcool na juventude estão bem estabelecidos. Por outro lado, as bebidas energéticas podem prolongar o período de consumo de álcool, mascarar o grau de incapacidade induzida pelo álcool e produzir o notório estado de “bêbado acordado”. Pesquisadores identificam corretamente esta como uma causa importante para a atenção a este tópico. O estudo de Magnezi e colaboradores (2015) certamente já nos alertava para a pertinência da questão. A idade média do primeiro consumo  foi de 12,5 anos. Há algo intrinsecamente perturbador em crianças de 12 anos “precisando” de energia vinda através de uma lata. Por que eles estão experimentando bebidas energéticas?

Ainda não podemos “bater o martelo” e afirmar com 100% de certeza que energéticos causam necessariamente uma dependência como outras bebidas que conhecemos, já que a literatura trás dados inconclusivos. No entanto, alguns pesquisadores já alertam para a necessidade de melhor regulação das mesmas pelo fato de não agregar benefícios nutricionais, e também, tanto pelo potencial de toxicidade da cafeína quanto pelo potencial capacidade de causar abstinência (sintomas de retirada, tais como ansiedade e mal estar físico) se usada de forma regular, em grandes quantidades e de forma prolongada.

É crucial que a população possa receber informações adequadas a respeito destas bebidas e que regulações sejam revistas para que os consumidores possam entender os reais benefícios e malefícios para a sua saúde e assim fazer escolhas informadas de seu consumo.

 

Fontes

Magnezi R, Bergman LC, Grinvald-Fogel H, Cohen HA. A surveyofenergy drink andalcoholmixedwithenergy drink consumption. Journalof Health PolicyResearch. 2015; 4:55.

Katz DL.Energy drink consumption in Israeliyouth: Publichealth&theperilsofenergetic marketing.Isr J Health Policy Res. 2016 Mar 10;5:9. doi: 10.1186/s13584-016-0069-4. eCollection 2016.

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