Autor: Rogério Adriano Bosso – Psicólogo – Especialista em Dependência Química

A avaliação inicial de uma pessoa que resolve buscar por tratamento é uma etapa muito importante e temos que dar total atenção e apoio para facilitar os meios de chegada ao tratamento. Quando a pessoa em busca de ajuda chega em um espaço de tratamento, geralmente é realizada a chamada triagem, que nada mais é que uma investigação sobre aspectos importantes da história de vida, da história de tentativas de tratamento já existente, do padrão de consumo de drogas e sua gravidade.

Em uma avaliação inicial, os profissionais irão coletar dados da pessoa para identificá-la em seu contexto social, econômico, seu estado de saúde física e mental atuais, se existe possíveis alterações nesses aspectos, irá investigar também sua história clínica e seus antecedentes familiares (Marques et. al., 2019). Em se tratando de mulheres (cisgênero ou transexuais), é fundamental para a processo de recuperação que a avaliação seja realizada com um foco nas questões do importantes e peculiares ao gênero feminino. O profissional que irá avaliar essas mulheres, precisa buscar além da sensibilidade às questões do gênero, passar confiança, respeito e ter uma postura equânime (Diehl, 2022). Por qual motivo o profissional deve avaliar o padrão de consumo de drogas e sua gravidade? A avaliação sobre o padrão de consumo e a gravidade ajudará os profissionais a encontrar uma hipótese diagnóstica, realizar o planejamento adequado de cuidados na criação de um projeto terapêutico singular (PAS) e realizar, também, possíveis encaminhamentos.

Deve-se identificar quais processos levam a pessoa para o uso de drogas para que, posteriormente, esses processos possam ser abordados e levantados como pontos a serem trabalhados no tratamento, com a finalidade de se traçar estratégias de enfrentamento (Lourenço et. al., 2020). O olhar do profissional, bem como sua conduta deve ser acolhedor e empático, pois a pessoa que busca por tratamento, têm outras questões interligadas e que devem ser tratadas, além da dependência de drogas. Sendo assim, o tratamento deve ser amplo e abranger além das questões exclusivas da dependência.

Vale lembrar que a queixa inicial pode ser o uso de drogas, mas não necessariamente esse é o único problema que a pessoa carrega consigo e que leva ao uso (Perrone, 2014). Outro ponto importante que nós profissionais observamos é que os familiares que acompanham as pessoas que estão em busca de ajuda, muitas vezes estão tão adoecidos quanto o dependente e precisavam de acolhimento, orientações e devem ser encaminhados para grupos específicos para familiares, como por exemplo, o Amor Exigente, para que possam ter um suporte e entender como lidar com seu familiar nesse momento tão decisivo de sua vida.

FONTES:

 

Diehl, A., (2022). Avaliação inicial e vulnerabilidades dos transtornos relacionados ao uso de substâncias em mulheres. In: Mulheres e Dependência Química: a importância do olhar para o gênero nos transtornos por uso de substâncias. Alessandra Diehl (org.); Rogério Adriano Bosso (org.); Sandra Pillon (org.). Curitiba: Editora CRV. p. 68.

Perrone, P. A. (2014). The therapeuticcommunity for recuperationfromaddictiontoalcoholandotherdrugs in Brasil: in linewithorrunningcountertopsychiatricreform? Ciencia&saude coletiva; 19(2): 569-80.

Marques, A. C. P. R et al. (2019). A avaliação inicial: identificação, triagem e intervenção mínima para o uso de substâncias. In Diehl, A., Cordeiro D. C. & Laranjeira, R. Dependência Química: Prevenção, Tratamento e Políticas Públicas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed.

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