Por Selene Franco Barreto

O consumo de substâncias psicoativas entre as mulheres tem aumentado nos últimos anos, refletindo diversos fatores sociais, culturais e psicológicos. O estresse causado por pressões sociais, demandas profissionais e domésticas, desigualdade de gênero e maternidade são alguns dos motivos que levam algumas mulheres a buscar o álcool como alívio ou fuga.

No entanto, o consumo traz riscos e até consequências graves para a saúde mental e física das mulheres, além de aumentar sua vulnerabilidade à violência doméstica e abuso sexual. Também há riscos para os filhos que dentre outros problemas, possuem chances de desenvolvimento da Síndrome Alcoólica Fetal. Já foram estudados os fatores que contribuem para que uma mulher consuma de forma abusiva: exposição a trauma, principalmente sexual, abuso psicológico, pressão social por padrões de beleza inatingíveis; demandas crescentes nas esferas profissional e doméstica; a histórica desigualdade de gênero no ambiente de trabalho, com salários reduzidos, e desafios impostos pela maternidade são algumas das causas mais frequentemente associadas a escolha do álcool para alívio ou fuga.

Ainda em relação ao álcool, estudo realizado pelo Ministério da Saúde em 2023 mostrou que ocorreu um aumento no consumo de álcool entre a população feminina: de 12,7% para 15,2% em relação aos anos anteriores. Durante muito tempo, as pesquisas clínicas sobre o álcool foram feitas apenas com homens, porque o alcoolismo era considerado um problema masculino. Por isso, só a partir da década de 1990, quando um decreto do National Institute of Health, dos Estados Unidos, determinou que as mulheres também fossem estudadas, é que foi possível descobrir mais a respeito dos efeitos do álcool no corpo delas – e há muitas especificidades devido à presença de hormônios, composição de água no organismo, ciclo menstrual e metabolismo, por exemplo.

Hoje, sabemos que além dos problemas decorrentes das diferenças orgânicas, há também questões relacionadas à saúde mental e maior vulnerabilidade à violência doméstica e abuso sexual entre mulheres que consomem drogas e álcool de forma nociva – e os riscos se estendem aos filhos, uma vez que beber durante a gravidez pode causar Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que compromete o desenvolvimento físico e cognitivo de crianças.

É fundamental abordar essas questões na sociedade de forma clara e acolhedora, promovendo programas de prevenção que enfatizem a educação, a igualdade de gênero e a importância do apoio social. Também é importante desafiar comportamentos que vêm sendo perpetuados ao longo de décadas e que fortalecem o estigma em torno do consumo de substâncias por mulheres.

Investir em políticas públicas que promovam igualdade salarial, licenças maternidades justas e ambientes de trabalho inclusivos podem colaborar com a diminuição do estresse e da pressão enfrentados pelas mulheres. Uma abordagem multidisciplinar que integre aspectos sociais, culturais e psicológicos pode criar ambientes mais equilibrados, saudáveis e equitativos, promovendo não só a prevenção do consumo de drogas e uso abusivo do álcool, mas também o bem-estar geral.

Algumas estratégias a serem trabalhadas na prevenção:

Educação e conscientização

  • Promover campanhas informativas em escolas, locais de trabalho e comunidades para desmistificar estigmas relacionados ao álcool e às drogas e incentivar decisões com base em conhecimento.

Promoção da saúde mental

  • Disponibilizar serviços de aconselhamento e suporte psicológico acessíveis a mulheres que enfrentam desafios emocionais.

Intervenção precoce

  • Implementar programas de intervenção precoce em escolas e comunidades, a fim de identificar sinais de uso nocivo de substância e oferecer suporte adequado.

Prevenção primária

  • Desenvolver programas que abordem fatores de risco específicos para mulheres, como violência de gênero, traumas e estresse.

Construção de redes de apoio

  • Estimular a criação de redes de apoio comunitário, incluindo grupos de discussão, terapeutas e acolhimento.
  • Incentivar a comunicação aberta e o compartilhamento de experiências para reduzir o estigma associado a quem consome drogas lícitas e ilícitas.

A prevenção eficaz deve estar adaptada às necessidades específicas das mulheres e suas diferentes realidades. Ao abordar esses aspectos de maneira integrada e hoslística, é possível criar ambientes mais saudáveis e solidários. Neste dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, desejamos que toda mulher, independentemente de raça, gênero, classe social ou idade, possa ter o direito a exercer sua cidadania e viver com liberdade e sem medo, sem precisar recorrer a maneiras de se entorpecer para enfrentar sua realidade. E se por acaso isso não puder ser evitado, que ela possa buscar ajuda e ser acolhida em suas necessidades sem qualquer julgamento.

Em resumo, é necessário investimento público em programas preventivos que abordem as questões específicas relacionadas ao consumo de álcool entre as mulheres. Isso inclui a educação, a igualdade de gênero e o apoio social. Além disso, é importante desafiar estereótipos e comportamentos que perpetuam o estigma em torno do consumo de substâncias por mulheres. Políticas públicas que promovam igualdade salarial, licenças maternidade justas e ambientes de trabalho inclusivos também são fundamentais. Uma abordagem multidisciplinar que considere aspectos sociais, culturais e psicológicos pode ajudar a criar ambientes equilibrados e saudáveis para as mulheres, promovendo não apenas a prevenção do consumo nocivo de álcool, mas também o bem-estar geral.

Referências:

TAYLOR, M. Por que o abuso de álcool impacta mais as mulheres do que os homens. BBC News [Online]. 26 ago. 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-45088434#:~:text=Mulheres%20t%C3%AAm%20uma%20maior%20vulnerabilidade%20fisiol%C3%B3gica%20ao%20%C3%A1lcool&text=Al%C3%A9m%20disso%2C%20a%20gordura%20ret%C3%A9m,ainda%20mais%20complicada%20ao%20%C3%A1lcool. Acesso em: 7 mar. 2024.

Selene Franco Barreto

Psicóloga Clínica e Consultora, Presidente da ABEAD (2023-2025).

@barreto_selene

 

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