Educação e Saúde na Adolescência: Um Compromisso Coletivo Refletindo as Ações de Prevenção ao Consumo de Álcool

Por Selene Franco Barreto.

A legislação brasileira, por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), estabelece que fornecer bebidas alcoólicas a menores de 18 anos é crime. Contudo, mais do que uma obrigação legal, essa é uma responsabilidade social e um compromisso ético de toda a sociedade. O consumo precoce de álcool por crianças e adolescentes tem consequências devastadoras para a saúde e o desenvolvimento. Estudos indicam que o uso precoce de bebidas alcoólicas aumenta os riscos de doenças crônicas e dependência no futuro, prejudica o desenvolvimento cerebral e está associado a comportamentos de risco, como acidentes, violência e evasão escolar. O cérebro humano continua em desenvolvimento até cerca dos 25 anos, e o consumo de substâncias psicoativas durante essa fase pode comprometer funções essenciais, como memória, controle emocional e tomada de decisões.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 63,2% dos estudantes entre 13 e 17 anos já experimentaram alguma bebida alcoólica. Além disso, 47% dos alunos nessa faixa etária afirmaram que já ficaram embriagados pelo menos uma vez. O consumo de álcool tem começado cada vez mais cedo, com muitos jovens tendo contato com a bebida antes dos 14 anos. Esses dados refletem um cenário alarmante que exige ações de prevenção mais eficazes e abrangentes.

A vulnerabilidade dos jovens ao consumo de álcool está fortemente ligada a fatores sociais, familiares e culturais. A pressão social desempenha um papel central, especialmente durante a adolescência, quando o desejo de pertencimento ao grupo e a necessidade de aceitação são intensos. Amizades e círculos sociais podem influenciar fortemente as decisões dos jovens, levando-os a consumir álcool para atender às expectativas do grupo. A falta de supervisão parental, por sua vez, cria um ambiente favorável ao consumo, pois a ausência de limites claros pode estimular os adolescentes a buscar comportamentos exploratórios em contextos inadequados.

Além disso, a normalização do consumo de álcool pela mídia e pela cultura amplia essa vulnerabilidade. A publicidade frequentemente associa bebidas alcoólicas a momentos de diversão e sucesso, criando uma percepção equivocada de que o consumo é inofensivo ou até desejável. Para os jovens, essa glamorização reforça a ideia de que beber é um comportamento socialmente aceito, diminuindo a percepção de risco. O acesso fácil a conteúdos na internet e redes sociais, com influenciadores ou celebridades consumindo álcool, amplifica ainda mais essa mensagem, tornando a bebida mais atrativa e acessível.

A normalização cultural do consumo de álcool por menores é um reflexo de uma permissividade social que precisa ser combatida por meio de educação e conscientização. A formação de hábitos saudáveis ocorre, em grande parte, no ambiente social. Programas de prevenção eficazes devem envolver não apenas a comunidade escolar, mas também as famílias e os profissionais de saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que campanhas públicas, treinamento de profissionais e intervenções familiares são fundamentais para reduzir os índices de consumo precoce entre os jovens.

Prevenir é educar

A educação é a chave para mudar essa realidade. Ações de conscientização podem ser realizadas em escolas, empresas, comunidades e, especialmente, nos lares. Algumas estratégias eficazes incluem:

Educação em saúde: Desenvolver programas educacionais nas escolas, com palestras, oficinas e materiais educativos, que informem os jovens sobre os riscos e as consequências do consumo de álcool. Capacitar professores e orientadores escolares para identificar sinais precoces de consumo entre os alunos.

Apoio familiar: Envolver as famílias em programas de prevenção, promovendo um ambiente doméstico que desincentive o consumo de álcool e que abra espaço para diálogos abertos sobre o tema.

Intervenções comunitárias: Estimular programas comunitários que ofereçam alternativas saudáveis, como atividades esportivas e culturais, além de apoio psicológico para jovens em risco de consumo.

Fiscalização e responsabilização: Reforçar a fiscalização nos estabelecimentos comerciais para garantir o cumprimento das leis que proíbem a venda de bebidas alcoólicas a menores.

Suporte a jovens em situação de risco: Oferecer serviços de apoio psicológico e social para adolescentes expostos ao consumo de álcool em ambientes familiares ou comunitários.

Políticas públicas: Apoiar políticas que limitem a publicidade de bebidas alcoólicas, especialmente aquelas direcionadas ao público jovem, e incentivar a criação de programas de prevenção.

Engajamento de profissionais de saúde: Realizar campanhas preventivas nas Unidades Básicas de Saúde voltadas para jovens e suas famílias. Profissionais da saúde devem atuar como agentes de transformação, utilizando intervenções baseadas em evidências, como o reforço de habilidades sociais e programas de treinamento parental, para reduzir a experimentação precoce de substâncias psicoativas.

A função do adulto na prevenção

Proteger crianças e adolescentes é um ato de cuidado que vai além do âmbito individual. Começa em casa, se estende na escola e a sociedade apoia. É necessário que toda a sociedade reforce a compreensão de que oferecer álcool a menores não é apenas uma infração à lei, mas uma falha no compromisso com um ambiente seguro e saudável para o desenvolvimento dos jovens. Os profissionais de saúde têm um papel essencial, não apenas no consultório, mas também em ações preventivas, dialogando com diferentes públicos e influenciando políticas públicas que promovam um futuro mais saudável e consciente para os jovens brasileiros.

Referências

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Coordenação de População e Indicadores Sociais. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, 2019. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/educacao/9134-pesquisa-nacional-de-saude-do-escolar.html. Acesso em: 11 dez. 2024.

Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Álcool e adolescência. Publicação online, 2022. Disponível em: https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/56201/OPASNMHMH220013_por.pdf?sequence=1. Acesso em: 11 dez. 2024.

Selene Franco Barreto

Psicóloga Clínica e Consultora de Empresa, Presidente da ABEAD (2023-2025) e Editora de Livros.

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Andreia Amaral

Professora, Revisora de Texto da Fiocruz, Editora de Livros.

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