Por Alessandra Diehl
O período de desintoxicação de substâncias como álcool, tabaco e cocaína, por exemplo, pode vir acompanhado por ganho de peso significativo e alguma atração por alimentos altamente doces. Isso pode explicar, pelo menos em parte, os produtos doces armazenados nos quartos de alguns pacientes quando estão internados fazendo desintoxicação. Da mesma forma, os pacientes ambulatoriais frequentemente descrevem mudanças na sua dieta e o surgimento de um forte desejo por produtos doces depois que param de consumir álcool ou nicotina, entre outras substâncias.
Vários estudos mostram que o aumento da ingestão de açúcar causa alterações neuroquímicas cerebrais semelhantes às observadas após o consumo de drogas que causam dependência. Alimentos saborosos com alto teor de açúcar ou gordura afetam os receptores de dopamina, opioides e serotoninérgicos no cérebro e possuem poderosos efeitos de reforço, que podem levar a impulsos compulsivos. Em estudos com animais, descobriu-se que o açúcar produz sintomas que podem preencher critérios semelhantes aqueles que são considerados para outras substâncias que causam dependência, pois mostraram uma sobreposição significativa entre o consumo de açúcares e efeitos semelhantes a drogas, incluindo compulsão, desejo, tolerância, abstinência, sensibilização cruzada, tolerância cruzada, dependência cruzada e recompensa. A suposta dependência de açúcar parece ser mediada por opioides endógenos naturais que são liberados com a ingestão de açúcar. Tanto em animais quanto em humanos, as evidências na literatura mostram paralelos substanciais e sobreposições entre drogas de abuso e açúcar, do ponto de vista da neuroquímica cerebral e do comportamento.
O consumo de açúcar tem sido associado ao uso de substâncias, e descobriu-se que os indivíduos dependentes de álcool ou drogas têm uma preferência por doces mais forte do que os não dependentes. Após a retirada da droga, dados neurobiológicos e de neuroimagem sugerem que pode haver uma sobreposição entre o desejo por drogas e comida açucarada. Estudo de Alarcone colaboradores (2021) mostrou que o aumento da ingestão e fissura por açúcar após a abstinência de álcool em 40% dos pacientes avaliados.
Pesquisas contemporâneas mostraram que um grande número de dependentes de álcool e outras drogas tem preferência por doces, especificamente por alimentos com alta concentração de sacarose. Também foi observado que os filhos biológicos de pais com alcoolismo, particularmente pais com transtornos por uso de álcool, correm maior risco de ter uma forte preferência por doces, e isso pode se manifestar em alguns com transtorno alimentar. Genes específicos podem estar por trás da preferência por doces em indivíduos dependentes de álcool e drogas, bem como em filhos biológicos de pais com alcoolismo. Também parece haver alguns marcadores genéticos comuns entre dependência de álcool, bulimia e obesidade, como o gene do alelo A1 e o gene do receptor de dopamina 2.
No entanto, por que o desejo de açúcar ocorre em alguns pacientes dependentes de substâncias não está totalmente esclarecido ainda, mas a evidência apoia a hipótese de que, sob certas circunstâncias, pelo menos nos modelos animais, estes podem se tornar dependentes do açúcar. Isso pode se traduzir para algumas condições humanas, conforme sugerido pela literatura sobre transtornos alimentares e obesidade em dependentes químicos.
Daí a necessidade e importância do acompanhamento nutricional juntamente com os demais profissionais que compõem as equipes multidisciplinares para se evitar o aparecimento de distúrbios metabólicos, como diabetes e importante ganho de peso.
Fonte:
Régis Alarcon, MargauxTiberghien, Raphael Trouillet, StéphaniePelletier, AmandineLuquiens , Serge H Ahmed , Bertrand Nalpas , StéphanieAlaux-Cantin , MickaëlNaassila, Pascal Perney. Sugar intakeandcravingduringalcoholwithdrawal in alcohol use disorderinpatients.Addict Biol. 2021 Mar;26(2):e12907. doi: 10.1111/adb.12907. Epub 2020 Apr 19.
Jeffrey L Fortuna.Sweetpreference, sugar addictionandthe familial historyofalcoholdependence: shared neural pathwaysand genes.J PsychoactiveDrugs. 2010 Jun;42(2):147-51. doi: 10.1080/02791072.2010.10400687