por Alessandra Diehl

Chegou às telonas a biografia de Whitney Houston (1963 – 2012), uma das maiores cantoras que este mundo já conheceu; dona de uma voz espetacular e, também, de uma vida conturbada com sérios problemas emocionais. O filme embora sub represente o envolvimento da cantora com as drogas, certamente ele nos traz muitas reflexões a respeito do consumo de substâncias que culminou com a morte trágica da mesma na banheira de um hotel nos EUA. Prepare-se! Se você viveu os anos 80 vai querer sair dançando no cinema, mas também vai sair de lá comum misto de sensações, entre eles de tristeza.

O trailer aborda uma série de detalhes marcantes da vida de Whitney, que vão desde o relacionamento conturbado com seu o pai que de forma semelhante a outras atrizes e cantoras explorava financeiramente a filha; o romance com Bobby Brown e com a sua assistente Robyn Crawford quase que ao mesmo, até o estrelato como uma das maiores artistas da história da música norte-americana e internacional.

Ela foi apresentada muito precocemente às drogas aos 14 anos pelo seu irmão Michael que lhe ofereceu álcool e maconha e, posteriormente, aos 16, foi apresentada ao LSD e a cocaína, chegando a usar crack e até mesmo heroína. Sua mãe se mostrou uma figura rígida, conservadora, extremamente exigente, que buscava e exigia a perfeição da voz da filha. A mãe de Whitney também não aceitava o romance com outra mulher. Já o casamento com Bobby Brown também contribuiu com a intensidade da dependência atribuída as diversas traições, um relacionamento abusivo e toxico, com ameaças e o consumo intenso de substâncias junto ao marido, chegando a fazer uso na frente da filha. Whitney parece que tinha a obsessão de sempre ter que estar agradando aos outros, quer seja seu pai, seu agente, seu marido, sua mãe, seus fãs, mas muito pouco a si mesma.

Em 2000, a cantora descobriu que, devido ao consumo de cocaína, desenvolveu danos em suas válvulas cardíacas e aterosclerose na parede das artérias cardíacas. Mas mesmo assim, parece ter faltado alguém na vida dela que de fato assumisse o controle de motivá-la a se tratar e parar um pouco com os shows e ir se cuidar já que estava gravemente doente. Seu agente, até tentou, mas isso não foi suficiente para interromper o ciclo de auto destruição a que estava submetida.

Muitas vezes, nós profissionais da área das adições assistimos cenas semelhantes em nossa prática clínica do dia a dia, em que nenhum membro da família é capaz de assumir as rédeas da situação e liderar com ajuda dos demais os cuidados para que o doente que está blindado aceite a cuidar de si. Assim como no caso da Whitney, a família tem um papel muito importante como fator protetor e fator de risco. Vários estudos sinalizam sobre a importância da família durante o processo de tratamento e a importância de a família também estar em tratamento.

A primeira internação aconteceu em 2004, mas Whitney permaneceu apenas cinco dias na clínica. Em 2005 teve uma recaída, ficou internada novamente por dois meses. Em 2011 ela tentou se recuperar mais uma vez, em outro programa de reabilitação. Mas, e a família Houston, será que ela chegou de fato algum dia a ser cuidada já que dentro de uma visão sistêmica da terapia familiar ela também estava adoecida?

Vários estudos têm abordado a dependência de drogas como um fenômeno que afeta não somente o usuário, mas também todo seu sistema familiar. Para cada indivíduo envolvido com álcool e/ou outras drogas, estima-se que 4 a 5 pessoas, incluindo cônjuges, companheiros, filhos e pais serão indiretamente ou diretamente afetados.

Daí a importância do papel da família no processo terapêutico destes indivíduos, e que talvez tivesse dado um outro desfecho a vida da cantora que nós aprendemos a amar e admirar até os dias de hoje.

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