Por Selene Franco Barreto e Alessandra Diehl

O movimento atualmente conhecido como “Outubro Rosa” surgiu na década de 90 nos Estados Unidos da América (EUA) com a finalidade de fomentar ações voltadas à prevenção do câncer de mama e, atualmente, a ideia já está disseminada pelo mundo todo com atividades diversas cujo objetivo principal é aumentar a conscientização da prevenção do câncer de mama através do diagnóstico precoce, o que aumenta muito as chances de cura.

Fatores de risco para o câncer de mama

No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), foram estimados 73.610 casos novos de câncer de mama em 2023, com um risco estimado de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres. O INCA alerta que não há uma causa única para o câncer de mama. Diversos fatores de risco, sejam comportamentais ou ambientais, estão relacionados ao desenvolvimento da doença entre as mulheres, como: envelhecimento, determinantes relacionados à vida reprodutiva da mulher, histórico familiar de câncer de mama, consumo de bebida alcoólica, tabagismo, excesso de peso, dieta rica em gordura, puberdade precoce, primeira gestação mais tardia, menopausa tardia, atividade física insuficiente e exposição à radiação ionizante.

Por isso, acreditamos ser crucial compreender que a campanha do Outubro Rosa transcende as fronteiras de uma única doença e oferece oportunidades valiosas para profissionais da saúde ampliarem o olhar de cuidados para todos os fatores de risco modificáveis que podem colaborar com a incidência e prevalência de casos de câncer de mama. Neste contexto, o olhar de todos os profissionais da saúde e não apenas daqueles que trabalham diretamente com a temática de alcoolismo e outras drogas torna-se extremamente salutar neste contexto.

Mecanismos do álcool na causação do câncer de mama

Entre os mecanismos reconhecidos que explicam a associação do álcool com o câncer está o fato de que os níveis elevados de estrogênio intracelular resultantes da ingestão de álcool podem promover a proliferação celular no tecido mamário relacionada ao câncer. O risco de desenvolver o câncer de mama aumenta de 7 a 10% a cada 10g (∼1 dose) de álcool consumido diariamente por mulheres adultas. Outros potenciais mecanismos que ajudam a explicar esta associação incluem tanto o estresse oxidativo e a proliferação celular uma vez que o álcool é metabolizado em acetaldeído, classificado como cancerígeno. A biotransformação do etanol leva à geração de metabólitos que podem causar perturbação da função celular ou morte. O etanol, como substrato enzimático, ativa vias metabólicas ou é incorporado em diferentes estruturas químicas em reações não oxidativas. O metabolismo oxidativo do etanol é predominante.

Prevalência de mulheres que consomem álcool

De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 44,6% da população adulta do país têm o comportamento de consumir bebida alcoólica – sendo 52,6% homens e 37,9% mulheres. E que 18,3% fazem consumo abusivo do álcool, sendo esse número distribuído entre 25% de homens e 12,7% de mulheres. Entre 2006 e 2021, as mulheres consumiram mais álcool de forma abusiva – um aumento de 63%, número muito preocupante.

Câncer de mama e consumo de álcool

O consumo moderado de álcool está consistentemente associado ao aumento do risco de câncer de mama, particularmente subtipos positivos para receptores hormonais. Dada a maior suscetibilidade do tecido mamário à tumorigênese entre a menarca e a primeira gravidez e a alta prevalência do uso de álcool em meninas adolescentes e mulheres jovens, compreender como a ingestão de álcool antes da primeira gravidez influencia o desenvolvimento do câncer de mama é importante para a prevenção desta morbidade. As mulheres devem compreender a acumulação de riscos ao longo da vida devido ao consumo moderado e pesado no início da adolescência, na vida adulta e depois ao longo das outras idades.

Os riscos do câncer de mama são aumentados em 11 a 16% para a mulher que ingere uma dose de bebida/dia antes da primeira gravidez, quando o tecido mamário está provavelmente mais vulnerável. Isso se traduz em 4% dos casos de câncer de mama e 11% de alterações celulares proliferativas atribuíveis ao consumo de álcool antes da primeira gravidez.

Prevenção do câncer de mama e do consumo de álcool

A prevenção é um pilar fundamental em todas as áreas da saúde. Da mesma forma que o câncer de mama pode ser prevenido, o uso nocivo de álcool e outras drogas também pode ser evitado – e as consequências físicas, mentais e sociais do consumo têm como ser amenizadas por intermédio da identificação e intervenção precoces em fatores de risco – assim como o Outubro Rosa enfatiza a importância da detecção precoce nos casos de câncer de mama.

A eliminação de alguns dos fatores de risco, como prevenção primária, pode proteger contra a morbidade e mortalidade causada pelo câncer de mama. O diagnóstico através de diferentes métodos, como por ex. mamografia, ultrassonografia, automatizada ultrassonografia e exame de palpação das mamas, como prevenção secundário prevenção, pode contribuir para a detecção precoce do câncer ou alterações pré-cancerosas.

Os esforços de prevenção do câncer da mama não devem visar apenas mulheres de meia-idade e mais velhas, mas também incluem adolescentes meninas e mulheres jovens. Os prestadores de cuidados de saúde devem estar cientes dos efeitos adversos do consumo de álcool pelos jovens sobre o risco de câncer de mama ao longo da vida de uma mulher e fornecer aconselhamento comportamental aos seus pacientes.

A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA recomenda que os médicos examinem adultos com 18 anos ou mais para uso nocivo de álcool e forneça as pessoas envolvidas em consumo de risco ou nocivo intervenções breves de aconselhamento comportamental. Daí a necessidade de maior atenção por parte dos médicos de cuidados primários e outros profissionais de saúde para identificar e prevenir menores que estejam fazendo consumo de álcool como uma prioridade, pois os adolescentes de hoje experimentarão câncer de mama nos próximos 50 anos.

 

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Outubro Rosa 2023. [Online]. Disponível em: Outubro Rosa 2023 — Instituto Nacional de Câncer – INCA (www.gov.br). Acesso em: 2 out. 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Biblioteca Virtual em Saúde. Outubro rosa – mês de conscientização sobre o câncer de mama. [Online]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/outubro-rosa-mes-de-conscientizacao-sobre-o-cancer-de-mama-2/. Acesso em: 28 set. 2023.

Ying Liu, Nhi Nguyen, Graham A Colditz. Links between alcohol consumption and breast cancer: a look at the evidence. Womens Health (Lond)  2015 Jan;11(1):65-77.  doi: 10.2217/whe.14.62.

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