Por Raquel Constantino Nogueira

Desde 1993, o dia 15 de maio foi escolhido pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas para celebrar o Dia Internacional da Família. A data marca o reconhecimento da importância da estrutura familiar na formação e desenvolvimento da sociedade pela Comunidade Internacional. Nesse sentido, a família representa a primeira célula social a que todo filhote de humano é exposto e submetido ao longo da existência. É neste grupo que iniciamos o desenvolvimento de toda nossa aparelhagem cognitiva, biológica e emocional.

A interconexão entre os membros familiares e o indivíduo vai moldando, em alguma medida, as bases das nossas subjetividades, de maneira sutil, fluida, constante e dinâmica. Muito do que acreditamos ser “o nosso jeito” poderia ser — por que não? — uma resposta orquestrada pelos condicionamentos familiares recebidos.

A terapia familiar sistêmica parte dessa premissa.

Nessa perspectiva, a família não seria apenas uma entidade externa, mas uma unidade emocional de cada indivíduo, moldada por vínculos afetivos, padrões de comunicação e experiências compartilhadas.

Nessa teoria, mesmo quando um profissional está atendendo uma única pessoa, atende também todo um grupo familiar — ou, como diria Murray Bowen, atendendo um complexo de forças emocionais transgeracionais. Isso é importante, porque muitas pessoas diversas à área da Psicologia e também profissionais da saúde têm o entendimento de que Terapia Familiar Sistêmica é o atendimento de duas ou mais pessoas de uma mesma família. Pode ser isso, mas não só.

Quando Bowen apresenta os estudos de padrões de funcionamento emocional, ele traz aos terapeutas incríveis ferramentas de investigação, capazes de adicionar potência ao tratamento.

Outros estudos, estes já mais específicos, relacionados ao tratamento da dependência química, mostram que a participação da família melhora significativamente os resultados a longo prazo. Uma pesquisa publicada no Journal of Substance Abuse Treatment (1993), por exemplo, descobriu que programas que envolvem a família resultam em taxas mais baixas de recaída e melhorias na qualidade de vida dos pacientes.

Ao adotar uma abordagem sistêmica, os profissionais podem ajudar a família a entender como suas próprias dinâmicas podem influenciar o comportamento do indivíduo em tratamento. Tal percepção envolve reconhecer padrões não-funcionais de comunicação, estigma, padrões relacionais de fusionamento/desligamento e outros fatores que podem estar contribuindo para o ciclo da dependência. Além disso, o envolvimento  emocional e prático da família durante o processo de recuperação é tido como um poderoso modelo condicionador de comportamentos mais funcionais ao grupo familiar, o que em outras palavras pode ser entendido como um recurso preventivo, à medida que amplia o desenvolvimento de habilidades para muitos membros de uma mesma geração. Isso pode incluir o estabelecimento de limites saudáveis, a promoção de um ambiente seguro e de suporte, além da participação ativa em terapias familiares e grupos de apoio.

Portanto, neste Dia Internacional da Família, é crucial reconhecer e celebrar não apenas os laços familiares, mas também o papel vital que a família desempenha como uma unidade emocional no tratamento da dependência química.

Ao fortalecer e envolver a família estamos potencializando todo o processo de recuperação.

Raquel Constantino Nogueira (CRP 05/29379)

Educadora infantil. Psicóloga clínica formada pela PUCRJ. Terapeuta de família, casal e individual sistêmica, pela Núcleo-Pesquisa. Atua há mais de 20 anos em programas de saúde mental e dependência química. Certificada em Educação na Primeira infância e Sala de aula em disciplina positiva. Positive Teaching Couple and Parenting The Positive Discipline Way, certified by Positive Discipline Association. Terapeuta EMDR. Consultora em desenvolvimento de Carreira de atletas de alta performance e executivos. Membro Titular da ATFRJ e ABRATEF. Vice presidente da ABEAD (2023-2025).

@raquelcnogueira

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