Autora:  Alessandra Diehl

Em geral, o mundo de performance que vivemos tem cada dia mais nos empurrado para sermos muito críticos conosco mesmos. Queremos ser perfeitos! Muitas vezes, somos nossos próprios algozes quando passamos por coisas muito difíceis, duras e ruins na vida como a dependência de álcool e outras drogas dentro da nossa família, por exemplo. O nosso auto criticismo pode ser extremamente tóxico. Culpamo-nos, envergonhamo-nos, escondemo-nos, isolamo-nos, e assim, acabamos nos sentenciando exageradamente. Indagações pessoais como: “Por que isto aconteceu comigo e com a minha família?” “Como eu não fiz diferente?” Ou “Por que eu agi assim?”, ou ainda, “como eu não vi o que estava acontecendo? “Ou “Onde eu estava quando meu filho começou a usar drogas?” ou “se eu pudesse voltar atrás e não teria feito isto!” são todas muito frequentes em nossas mentes.

Esquecemos muitas vezes de termos um olhar com mais amorosidade e mais indulgência para nós mesmos. Sentimentos estes que são de desprezo, hostilidade e raiva por nós ou por nossas atitudes. E tudo isto pode nos paralisar!

Falta-nos muitas vezes o cultivo deste sentimento tão importante para nossa sobrevivência chamado de autocompaixão. Aumentar a autocompaixão pode ser um complemento útil para intervenções de prevenção e tratamento de familiares e pacientes com transtornos por uso de substâncias. Pessoas com problemas com drogas e / ou álcool frequentemente experimentam sentimentos de vergonha e culpa, os quais têm sido associados a uma taxa menor de recuperação. O perdão a si mesmo tem o potencial de reduzir essas experiências negativas.

A compaixão origina-se como uma resposta empática ao sofrimento, como um processo racional que busca o bem-estar, alívio de sintomas negativos por meio de ações específicas, direcionadas a encontrar uma solução para o sofrimento. Assim, podemos entender a autocompaixão como uma estratégia de regulação emocional eficaz e adaptativa para lidar com pensamentos, sentimentos indesejados ou desagradáveis e acontecimentos da vida negativos ou dolorosos. A autocompaixão compreende bondade, atenção plena e humanidade.

A autocompaixão também pode ser entendida como a sensibilidade demonstrada para compreender o nosso próprio sofrimento, a nos perdoar, para nos melhor aceitar, combinada com a disposição de autoajuda e promoção do bem-estar de si mesmo, a fim de encontrar uma solução para sua própria situação. A autocompaixão descreve uma atitude positiva e atenciosa em relação a nos mesmos diante de possíveis “falhas”, “erros” e “deficiências” individuais. Ela tem também um efeito amortecedor do desenvolvimento de uma cascata de negatividade sobre nós mesmos. Como resultado dessa atitude solidária por si mesmo, presume-se que indivíduos com elevada autocompaixão tenham mais saúde mental, menos sintomas depressivos, mais qualidade de vida e mais bem-estar.

A boa notícia é que a autocompaixão é algo que pode ser aprendida e desenvolvida. Tem crescido o interesse de pesquisas científicas nos últimos anos por estudos sobre a autocompaixão e pela sua inclusão no tratamento de indivíduos com dificuldades psicológicas complexas e sérias como a dependência química, a violência doméstica, vivências de relacionamentos abusivos, doenças crônicas, ou ainda, com histórias precoces, na maioria das vezes, de abuso, negligência, criticismo e insegurança emocional.

Intervenções baseadas em autocompaixão individual ou em grupo com sessões breves têm sido propostas por estudiosos utilizando técnicas baseadas na terapia cognitivo comportamental e mindfulness para ajudar uma infinidade de contextos e situações.

Então, seja gentil consigo mesmo! Olhe para aquilo que você deu conta de fazer, e ser, e não apenas, para aquilo que foi ruim e não conquistado. Tenha uma atitude bondosa consigo mesmo com mais esperança e otimismo para realizar aquilo que é possível. Não fique paralisada e, sobretudo, peça ajuda!

 

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