Estudo encomendado ao Instituto DataFolha pelo Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CFF), apontou que tomar remédio por conta própria é um hábito comum de 77% dos brasileiros. Quase metade (47%) afirmou se medicar sem prescrição médica pelo menos 1 vez por mês, sendo que 25% dos entrevistados disseram que usam remédios sem a consulta de um profissional uma vez por semana ou todo dia. O 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas, realizado em 2017 e coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou que o uso de medicamentos benzodiazepínicos e os indutores do sono estão no ranking do consumo de substâncias mais consumidas no país e que causam dependência. O estudo é o levantamento nacional mais recente sobre drogasrealizados em território nacional. Participaram da pesquisa até mesmo moradores de municípios de pequeno porte e de zonas de fronteira, por exemplo. Os entrevistados responderam fazer uso dos analgésicos opiáceos e dos tranquilizantes benzodiazepínicos. Nos 30 dias anteriores à pesquisa eles foram consumidos de forma não prescrita, ou de modo diferente àquele recomendado pela prescrição médica, por nada menos que 0,6% e 0,4% da população brasileira, respectivamente.

Para a psicóloga Sabrina Presman, membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD), “os achados nos revelam uma nova oportunidade de debatera automedicação de substâncias que também promovem dependência, tais como os benzodiazepínicos e os indutores do sono sob a ótica de um real problema de saúde pública.”

“Esse resultado demonstra um padrão de risco e requer alerta. A automedicação é um fenômeno preocupante e bastante comum na nossa cultura. A busca de um alívio imediato pode retardar um adequado diagnóstico e consequentemente uma adequada resolução de um quadro clínico. Vivemos em uma sociedade que tem pressa e não parece suportar qualquer dor e frustração. Acho que é muito dentro deste contexto que as medicações prescritas podem gerar automedicação e abuso” diz a psiquiatra Alessandra Diehl, atual presidente da ABEAD. Ela acrescenta que muito embora originalmente comercializados como alternativas seguras aos benzodiazepínicos (os quais conhecidamente causam dependência), um número crescente de preocupações clínicas com relação ao zaleplon, zolpidem e zopiclone (“drogas- Z”) têm sido relatados nos últimos anos. Ainda segundo ela, esse medicamento, que para muitos parece inofensivo e visto como um aliado para driblar a insônia possui efeito sedativo e hipnótico.

Muitos casos de uso indevido de zolpidem vem sendo relatado na literatura até o momento. Na maioria dos casos, já havia um histórico de abuso de álcool ou drogas. As pesquisas revelam que as pessoas que tomam o medicamento podem ter sonambulismo, crescente prejuízo cognitivo, principalmente de memória e, sobretudo, tolerância e consequente dependência. Diante das evidências científicas, o FDA, agência reguladora de alimentos e remédios dos Estados Unidos da América (EUA), passou a alertar a comunidade médica e aos pacientes sobre os efeitos colaterais dos Z – compostos desde 2013.Deve-se tomar cuidado ao prescrever essas moléculas, especialmente para pacientes com doenças psiquiátricas e / ou histórico de abuso de drogas. Recomendamos a necessidade de investir em atividades proativas de farmacovigilância para detectar, entender e melhor prevenir prontamente qualquer possível potencial de uso indevido dos medicamentos prescritos, alerta Alessandra Diehl.

Leave a Reply