Autora: Aline Coraça

O que vem a ser contingência?
É a relação funcional que ocorre entre um comportamento e a consequência gerada por ele. Portanto, criar uma nova contingência significa apresentar uma nova consequência mediante a exclusão de dado comportamento. Algumas consequências, chamadas de reforçadoras, aumentam a probabilidade de que determinado comportamento se repita. O efeito fisiológico produzido por algumas substâncias pode atuar como reforçador, aumentando a probabilidade de que comportamentos que levem ao efeito da substância sejam manifestados. Quando as consequências associadas ao consumo se tornam muito reforçadoras (e, ao mesmo tempo, outras atividades produzem poucos reforçadores), o indivíduo passa a dar maior prioridade ao engajamento em comportamentos que o levem aos reforçadores ligados à substância. Criar novas contingências usando reforçadores naturais (atividades sociais, familiares, de esporte e lazer) é aconselhável, pois tendem a se manter após o término do tratamento. Porém, é muito comum que o repertório comportamental de usuários com Transtorno por uso de substâncias (TUS) esteja muito empobrecido e que a maioria dos reforçadores ligados a esse repertório esteja associada ao consumo de substâncias.

O manejo de contingências como mais uma ferramenta no tratamento de pessoas com TUS
Por conta disso, o tratamento através do Manejo de Contingências (MC) tende a apresentar consequências com reforçadores arbitrários (p. ex., receber prêmios), contingente à emissão de comportamentos alvo específicos (p. ex., comprovação objetiva de abstinência). Tais comportamentos costumam ser incompatíveis com aqueles ligados ao consumo de substâncias. Assim, tendem a competir. Desse modo, por um lado, ao receber esse tratamento, o indivíduo pode consumir a substância e ter acesso aos efeitos reforçadores ligados a ela, por outro, pode manter a abstinência e receber reforçadores desenvolvidos pelo tratamento.
Manipular as contingências por meio de técnicas de MC pode ser mais uma ferramenta no tratamento para indivíduos com TUS. Todavia, é importante garantir certos componentes do tratamento durante toda a intervenção:

• Desenvolver um método sistemático e objetivo de verificar a emissão do comportamento alvo (p. ex., para checar a abstinência, usam-se análises de urina);

• Selecionar um reforçador positivo forte o bastante para competir com os reforçadores ligados ao consumo de substâncias (p. ex., dinheiro, utensílios domésticos, ingressos para shows) selecionar um esquema de reforço adequado (pelo menos duas vezes por semana; de preferência, reforçar logo após a emissão do comportamento alvo).

Mesmo que, em muitos dos tratamentos por MC, o comportamento alvo selecionado seja a observação objetiva de abstinência, outros comportamentos podem ser selecionados, como: adesão farmacológica, adesão ao programa de tratamento, alcance de metas estipuladas durante o tratamento.

Para reforçar esses comportamentos, a literatura sobre tratamentos por MC sugere uma série de possíveis reforçadores, como: acesso a ambiente de trabalho, vale refeição, prêmios (eletrodomésticos, roupas, etc.) moradia, dinheiro. Os modelos de tratamento por MC mais estudados e que mostram maior evidência de eficácia são o baseado em fichas (vouchers) e o baseado em prêmios.

É importante ressaltar que os pressupostos teóricos do MC não excluem que outras variáveis, como vulnerabilidades genéticas, fatores socioeconômicos e outras comorbidades psiquiátricas, possam ter um papel na origem dos TUS. No entanto, consiste em um modelo de intervenção que independe de fatores etiológicos específicos, o que permite que sua aplicação possa ser generalizada, ou seja, pode ser aplicado como um componente terapêutico para praticamente qualquer tipo de programa e estrutura de tratamento para os TUS.

Leave a Reply