– [x] Uma chamada para ações no contexto de saúde pública que considerem as questões relativas ao gênero no campo das dependências químicas

Sabemos que o consumo de substâncias entre as mulheres é um crescente problema na área da saúde pública. No entanto, por muitos anos, a pesquisa e a prática clínica sobre a dependência química e comportamental concentraram-se quase que exclusivamente nos homens, os quais histórica e culturalmente sempre usaram mais álcool e outras drogas do que as mulheres.

No entanto, o padrão epidemiológico vem sinalizando um aumento do consumo de álcool e outras drogas entre as mulheres em vários lugares ao redor do mundo. No Brasil, por exemplo, 17% das mulheres adultas afirmaram ter bebido uma vez ou mais por semana em 2019. O índice é 4,1 pontos percentuais maior do que era em 2013 (12,9%) segundo dados do programa nacional de saúde de 2019. Os Levantamentos Nacionais de Álcool e outras Drogas (LENAD II e II de 2006 e 2012) já sinalizavam um aumento mais significativo do consumo de álcool entre as mulheres, que foi de 29% em 2006 para 39% em 2012. Nestes mesmos levantamentos, procurou-se identificar o beber em “binge” que é considerado um indicador de beber nocivo, onde o indivíduo ingere grandes quantidades de álcool (4 unidades de álcool para mulheres e 5 unidades para homens) em um período curto de tempo (2 horas). Observamos que entre 2006 a 2012 houve um aumento significativo desta forma de consumo com um aumento maior observado no sexo feminino, de 36% para 49%.

Milhões de meninas e mulheres foram atraídas para o tabagismo por uma indústria tabaqueira que tem visado clara e sistematicamente mulheres de todas as idades e circunstâncias de vida. Estratégias semelhantes vem sendo utilizadas para cativar mulheres jovens a consumir os DEFs, principalmente, através das chamadas influencers digitais que se mostram utilizando os DEFs em plataformas como instagram e Tik Tok. As estratégias de marketing do tabaco vinculam habitualmente o uso do cigarro aos valores femininos típicos. Algo semelhante ocorre com as estratégias de marketing da indústria do álcool visando novas consumidoras infantojuvenis com menssagens de “sensualidade, epoderamento, beleza e liberdade”, apenas para citar alguns exemplos.

Diante desta constatação, surge a necessidade de criar e ampliar espaços de trocas e cuidados com mais acolhimento, menos preconceito e mais sororidade. O tratamento eficaz deve incorporar abordagens que reconheçam as diferenças entre sexo e gênero, compreender os tipos de traumas que as mulheres muitas vezes enfrentam, fornecer suporte adicional para mulheres com necessidades de cuidados à sua prole e usar abordagens baseadas em evidências para o tratamento de mulheres grávidas.

Todos estes argumentos parecem justificar também a importância de se entender o estigma social e as diferenças do tratamento entre homens e mulheres dependentes de substâncias. Os problemas de abuso de álcool e outras drogas relacionados ao gênero estão não apenas nas diferenças biológicas, mas também a fatores sociais, culturais e ambientais, que podem influenciar a apresentação clínica, as consequências do uso e as abordagens de tratamento, prevenção e das políticas públicas voltadas as especificidades de mulheres cisgêneras e transexuais.

Trata- se de uma chamada para ações bem planejadas no contexto de saúde pública que considerem, sobretudo, as questões relativas ao gênero.

Diante deste contexto, no dia 3 de junho de 2022 das 8 as 18 hrs vamos realizar um encontro presencial no Hotel Mercure Paulista em São Paulo organizado pela ABEAD e seus parceiros para reunir profissionais que possuem uma interface de atuação dirigida às mulheres usuárias de álcool e outras drogas para formar uma rede com este propósito em comum , além de troca de experiências nacionais e internacionais da área, apresentação de necessidades do setor, discussão de estratégias possíveis de cuidados, mobilização, enfretamento e, sobretudo, formular um documento sobre as lacunas no nosso país neste seguimento para ser encaminhado às autoridades competentes. A temática está contemplada entre os objetivos do plano global da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável que tem como premissa o combate as inequidades ao “não deixar ninguém para trás” e promover a diminuição das desigualdades de gênero.

Se você é jornalista e se interessou por este tema, todas as profissionais que estarão conosco terão o maior prazer em conceder entrevista para matérias sobre o tema. A Imprensa é bem vinda para fazer cobertura e matérias que se interessarem . Confira a programação clicando aqui

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