Autora: Alessandra Diehl

Embora haja alguma controvérsia pelo exato conceito de altruísmo, podemos de uma maneira geral e bem simplista defini-lo como uma forma de comportamento de consideração e preocupação pelos outros, em oposição ao conceito de amor-próprio ou de egoísmo. O altruísmo é baseado em cuidados e visa melhorar o bem-estar do outro. Trata-se de um conceito intimamente ligado a uma condição empática.

Existe o argumento de que o altruísmo é uma construção social, ou seja, algo aprendido. Outros, no entanto, acreditam que o altruísmo seja algo genético (biológico) e não apenas desenvolvido ou ecológico. No entanto, pouco ainda sabemos sobre os processos neuronais que o suportam. Acredita-se que algumas regiões cerebrais corticais podem estar envolvidas no seu processamento. Alguns estudos já nos sinalizam que estruturas densamente povoadas por receptores para os hormônios ocitocina e vasopressina, incluindo a amígdala, a estria terminal e o estriado cerebral estão envolvidos em diferentes aspectos do desenvolvimento do altruísmo.

No entanto, o que de fato sabemos é que ajudar os outros tem sido associado a níveis mais elevados de saúde mental e de bem estar. Isto está acima e além dos benefícios de receber ajuda. Preditores significativos de ajuda incluem, por exemplo, endossar mais atividades de oração, maior satisfação com a vida de oração, engajar-se em coping religioso positivo, envolver-se em causas humanitárias ou fazer atos isolados como pagar um lanche para uma pessoa com fome, ajudar a carregar as compras de uma senhora ou ajudar um idoso a atravessar a rua, por exemplo. Portanto, existe claramente uma pluralidade de formas de perceber e entender o altruísmo.

Para alguns dependentes químicos em recuperação, por exemplo, praticar o altruísmo em prol de outros adictos que ainda sofrem têm sido fortemente recomendado há décadas. Isto porque dar ajuda a outros na forma de manter um comportamento social altruísta pode ser um preditor importante de melhor saúde mental e manutenção da recuperação do que apenas receber ajuda. Em outras palavras, dar para os outros é dar para si mesmo.

Os Alcoólicos Anônimos (AA) são frequentemente e erroneamente vistos como apenas uma “organização espiritual”. No entanto, são comumente menos reconhecidos pelo fato de que ajudar os outros é uma parte fundamental da concepção de espiritualidade de AA. Ajudar os outros, levando o programa de AA a outros alcoólicos através dos 12 passos pode ser entendido como uma das culminações do programa de AA e a manifestação comportamental de um verdadeiro despertar espiritual. Além disso, os membros são incentivados a ajudar em todos os estágios através do seu envolvimento com os AA. É essa ajuda que se pensa ser um dos vários pilares para mantê-los sóbrios. Um estudo de Zemore & Kaskutas (2004) mostrou que à medida que o tempo de sobriedade se acumula, os dependentes de álcool em recuperação parecem dedicar-se menos tempo à ajuda informal e mais tempo a projetos comunitários organizados – talvez indicando necessidades e habilidades em evolução. Os resultados deste estudo também sugerem os importantes papéis do AA e da espiritualidade no incentivo à ajuda, e indicam que algumas formas de espiritualidade relacionam-se com a afiliação ao AA. No entanto, mais pesquisas ainda precisam ser desenvolvidas para saber “como” ajudar beneficia o ajudante do ponto de vista empírico – e, especificamente, “o quanto” ajudar pode contribuir para a recuperação no contexto do envolvimento de AA.

Num mundo tão predador como o nosso, onde a luta pela existência é diária, onde o ódio e julgamentos nas redes sociais são contumazes; alguns argumentam que a probabilidade de existirem pessoas altruístas deve diminuir em frequência ao longo das gerações e, por fim, desaparecer. Será? Otimistas que somos, queremos acreditar que não, pois sempre haverá espaço para pessoas como Bill e Bob (fundadores de AA), como madre Tereza de Calcutá e padres como Júlio Lancelotti e tantos outros anônimos ou não que fazem a diferença no mundo todos os dias!

Leave a Reply