Autora: Alessandra Diehl

Geralmente, o fenômeno da resiliência constuma ser definido como a capacidade humana de se adaptar diante da tragédia, do trauma, das dificuldades e dos constantes estressores da vida como divórcio, doenças crônicas, incapacidades, lutos e grandes pandemias como esta que estamos vivendo, por exemplo. Os estudos de resiliência surgiram a partir de trabalhos iniciais que identificaram grupos de crianças que demonstraram uma notável capacidade de não apenas se recuperarem, mas de terem verdadeiros despertares e florescimentos apesar das condições precoces caracterizadas por uma extrema adversidade. Em alguns destes trabalhos, a família foi frequentemente entendida como um mecanismo primário de adoecimento, mas algo que as crianças resilientes conseguiam superar com certo sucesso.

Ao identificar os processos críticos de proteção utilizados por aqueles que demonstram resiliência, os profissionais da saúde e da assistência social que trabalham com famílias em risco podem incentivar padrões positivos de avaliação e enfrentamento que promovem a adaptação contínua. Especificamente, para crianças vítimas de maus-tratos, a auto-estima positiva e a resiliência egoica predisseram um funcionamento mais resiliente.

A resiliência está fortemente associada a uma redução no risco para os transtornos relacionados ao uso de álcool e outras drogas, por exemplo. Por isso, que algumas intervenções universais têm abordado a resiliência em adolescentes como um meio de reduzir o uso de substâncias pelos mesmos. Entre estes programas, destaca-se o alemão chamado “Strengthening Families Program” e o suíço conhecido como Resilience Curriculum. Nem todos têm obtido resultados favoráveis o que nos leva a crer que trabalhar somente a resiliência pragmática não parece ser tão eficaz quanto se esperava inicialmente, uma vez que, para a prevenção, outras dimensões para além da esfera individual importam. Há também uma área de pesquisa pequena, mas crescente, que tem examinado a recuperação da dependência química como uma forma de resiliência.

A resiliência parece ser o resultado da sobreposição de influências neurobiológicas, genéticas e ambientais compartilhadas, o que afeta o risco do uso de substâncias. Influências genéticas na resiliência contribuem para internalizar fenótipos em um grau mais alto do que para fenótipos externalizantes. Influências ambientais também podem ter um efeito duradouro na resiliência. Vínculos pessoais como as redes sociais, modelos familiares e de apoio e a necessidade de moradia segura e estável, em geral, são apontados como a chave para a resiliência, principalmente de jovens em situação de maior vulnerabilidade social.

Isso talvez nos remeta também à necessidade de revistar o fenômeno de resiliência e entender que os fatores genéticos e os fatores de vivência familiares importam, mas que devem existir outros aspectos ainda a serem desvendados para melhor compreender este constructo. Por exemplo: será que fatores epigenéticos ou alterações epigenéticas causadas por eventos estressantes podem tornar indivíduos mais suscetíveis a alterações neuroplásticas induzidas por substâncias que se somam para o desenvolvimento dos transtornos adictivos? A expressão gênica segue uma ordem que estaria em jogo nesta complexa interação da resiliência? Ou ainda, será que resiliência é algo que deve ser monitorado de forma contínua como se tivesse um “prazo de validade”? Existem muitas perguntas sem respostas conclusivas ainda!

Daí a necessidade de o constructo mundialmente conhecido como resiliência estar em constante revisitação para atualização e, por conseguinte, fazermos uso deste de forma assertiva e construtiva em nossas intervenções. De fato, no geral, as conceituações atuais de resiliência são muito estreitas para reconhecer todos os potenciais de práticas de resiliência no cotidiano da prevenção e no tratamento de indivíduos que usam drogas ativamente.

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