Autora: Alessandra Diehl

Relatório Mundial sobre Drogas 2022 na UNODC lançado hoje destaca tendências no pós-legalização da maconha e impactos do uso de drogas entre mulheres e jovens.

Efeitos da legalização da maconha

Todos os anos o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) produz um documento de monitoramento de tendências mundiais sobre o consumo de drogas ilícitas, cultivo, tráfico e agravos à saúde relacionados ao consumo das mesmas. O último Relatório Mundial sobre Drogas lançado no dia 27 de junho do presente ano mostra alguns achados bastante preocupantes. Um deles a destacar diz respeito ao aumento do consumo de maconha, já que 209 milhões de pessoas no mundo consumiram esta droga pelo menos uma vez no ano anterior da pesquisa, um aumento de 9 milhões de pessoas com relação aos dados apresentados em 2021. Segundo a UNODC a legalização da maconha em algumas partes do mundo parece ter acelerado o uso diário desta droga e acarretado diversos impactos relacionados à saúde. Isto por si só pode ser um alerta para aqueles países que flertam com o desejo de fazer o mesmo em seus territórios, como é o caso do Brasil.

A legalização da maconha na América do Norte parece ter aumentado o uso diário de cannabis, produtos de cannabis especialmente potentes e particularmente entre os jovens adultos. Aumentos associados em pessoas com transtornos psiquiátricos, suicídios e hospitalizações também foram relatados.

A legalização também aumentou as receitas fiscais e, em geral, reduziu as taxas de prisão por posse de maconha. Os pesquisadores alertam que muitas tendências observadas em medidas de resultados em países e estados que legalizaram a maconha não podem ser simplesmente observados fora dos contextos naqueles países, nem essas medidas podem ser replicadas em outros países sem estas análises devidamente equalizadas. Isto porque em diferentes jurisdições, o grau de desenvolvimento do mercado de maconha, construções sociais e políticas existentes podem mitigar ou exacerbar de forma diferente o impacto da legalização desta droga. Eles também sinalizaram que é importante ressaltar que todos os efeitos da legalização na saúde pública, segurança e justiça criminal levará décadas para se tornar aparente. Na maioria das jurisdições, a produção de maconha e as cadeias de suprimentos estão sendo desenvolvidas e ainda não se estabilizaram. Alguns anos após a legalização do uso recreativo de maconha pode não ser longo o suficiente para fornecer uma indicação do impacto do uso desta droga na saúde pública como os mercados de maconha ainda estão em desenvolvimento.

Desigualdade do tratamento de gênero e disparidades no uso de drogas por mulheres

Outro dado importante que já temos sinalizado há algum tempo diz respeito as disparidades e vulnerabilidades associadas aos gênero. As mulheres continuam a ser a minoria de usuários de drogas em todo o mundo, mas tendem a aumentar sua taxa de consumo de substâncias e progredir para transtornos por uso de drogas mais rapidamente do que os homens. As mulheres agora representam cerca de 49% dos usuários de anfetaminas e usuários não médicos de estimulantes farmacêuticos, opióides farmacêuticos, sedativos e tranquilizantes. A lacuna do tratamento para elas continua grande em todo o mundo, e não é dieferente aqui no Brasil. Embora as mulheres representem quase um em cada dois usuários de anfetaminas, elas constituem apenas uma em cada cinco pessoas que estão em tratamento para transtornos por uso de anfetaminas.

Sempre Alerta !

Precisamos continuar lançando luz sobre diferentes aspectos do problema mundial das drogas já que a dependência de substâncias pode ser uma luta interminável e agonizante para as pessoas que usam drogas e seus familiares. Este sofrimento é desnecessariamente agravado quando as pessoas não podem acessar cuidados baseado em evidências ou ainda estão sujeitos a discriminação, ódio ou antipatia da população e invisibilizados por políticas públicas. O uso de drogas pode colocar em risco a saúde física e mental e é especialmente prejudicial quando ocorre no início da adolescência. Os mercados de drogas ilícitas estão ligados a violência e outras formas de crime. As drogas podem alimentar e prolongar o conflito, e os efeitos desestabilizadores também, pois os custos sociais e econômicos impedem a sustentabilidade de desenvolvimento.

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