Por Alessandra Diehl

O transtorno por uso de cocaína continua sendo um grave problema de saúde pública no Brasil e em todo o mundo. O uso de cocaína está associado a problemas cardiovasculares e neurológicos, alterações psicológicas, comportamentais, complicações diversas, incluindo infecções, acidente vascular cerebral e convulsões. Apesar de várias décadas de investigação, não existem tratamentos farmacológicos aprovados para a dependência de cocaína e crack para ajudar os usuários a ultrapassar a abstinência de cocaína ou a prevenir a recaída da droga. Alguns autores chegam a mencionar o quanto isso causa uma visão niilista sobre a farmacoterapia para os transtornos relacionados ao uso de cocaína e crack.

Pesquisas anteriores, principalmente concentradas na dopamina, descobriram que o uso de cocaína induz alterações no cérebro relacionadas a outros neurotransmissores – incluindo serotonina, ácido gama-aminobutírico (GABA), norepinefrina e glutamato. Atualmente, os pesquisadores estão testando medicamentos que atuam no receptor de dopamina D3, um subtipo de receptor de dopamina que é abundante nos centros de emoção e recompensa do cérebro.

A maioria das farmacoterapias estudadas não foi eficaz no tratamento do transtorno por uso de cocaína. A bupropiona, os psicoestimulantes e o topiramato podem melhorar a abstinência e os antipsicóticos podem melhorar a retenção. O manejo de contingências e as intervenções comportamentais juntamente com a farmacoterapia devem continuar a ser exploradas.

Um número significativos de vacinas candidatas têm demonstrado resultados promissores nas fases pré-clínicas e clínica e apóiam o conceito de desenvolvimento de uma vacina para TUS (cocaína). No entanto, ainda não houve sucesso final e existem alguns desafios com um esforço maciço para levar mais candidatos a ensaios clínicos para avaliações adicionais. Além de demonstrar a segurança, os pacientes que atingiram níveis elevados de anticorpos reduzem significativamente o consumo de cocaína. No entanto, apenas 38% dos indivíduos vacinados atingem níveis de anticorpos suficientes e durante apenas 2 meses. Descobrir novas tecnologias, novos genótipos que respondem a uma melhor taxa de anticorpos. A meta-análise das vacinas sobretudo para o tratamento da dependência de nicotina mostrou que os grupos vacinados tiveram 50 vezes mais probabilidade de criar anticorpos específicos em comparação com os não vacinados, mostrando uma boa imunogenicidade.

Tem sido observado também uma melhora dos sintomas da dependência de cocaína durante o tratamento ativo com Estimulação Magnética Transcraniana (EMTr). No entanto, não se observa ainda diferenças significativas no desejo e no consumo de cocaína entre os grupos de tratamento, destacando a complexidade dos fatores que contribuem para a manutenção da dependência de cocaína.

Vale comentar que a impulsividade está implicada no desenvolvimento e manutenção do Transtorno por Uso de Cocaína, sendo que poucos trabalhos têm ainda examinado o papel da impulsividade no interesse em iniciar o tratamento, na adesão ao tratamento ou na resposta ao tratamento. Portanto, os esforços para compreender e reforçar os efeitos da psicoterapia e dos grupos de mútua ajuda são importantes para orientar e refinar o tratamento.

 Referência

Brian Chan, Karli Kondo, Michele Freeman, Chelsea Ayers, Jessica Montgomery, Devan Kansagara. Pharmacotherapy for Cocaine Use Disorder-a Systematic Review and Meta-analysis. J Gen Intern Med. 2019 Dec;34(12):2858-2873.  doi: 10.1007/s11606-019-05074-8. Epub 2019 Jun 10.

Md Kamal Hossain, Majid Davidson, Erica Kypreos , Jack Feehan, Joshua Alexander Muir, Kulmira Nurgali, Vasso Apostolopoulos. Immunotherapies for the Treatment of Drug Addiction. Vaccines (Basel) . 2022 Oct 22;10(11):1778. doi: 10.3390/vaccines10111778.

Alessandra Diehl

Psiquiatra, mestre e doutora pela UNIFESP, pós doutora pela USP de Ribeirão Preto. Especialização em dependência química e sexualidade humana. Membro do Conselho Consultivo da ABEAD

@dra.alessandradiehl

 

 

 

 

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