Por Alessandra Diehl
Em abril de 2018, nos Estados Unidos da América (EUA) representantes da JUUL, uma marca bastante conhecida por lá na fabricação, venda e propagada de cigarros eletrônicos havia entrado em uma escola secundária por meio de um grupo externo anti-dependência, sem o conhecimento da escola, e disse aos alunos do 9º ano, sem a presença de adultos, que a JUUL era “totalmente seguro” e receberia a aprovação da FDA “qualquer dia”. Alguns alunos informaram isso a seus pais e isso foi o catalisador para dar origem a um movimento social de advocacy intitulado Parents Against Vaping e-cigarettes (PAVe) no mesmo ano de 2018 fundada por três mães de Nova York – Dina Alessi, Meredith Berkman e Dorian Fuhrman – como uma resposta à epidemia de vaping juvenil nos EUA.
Atualmente nos EUA mais de 2,5 milhões de crianças menores de 18 anos estão atualmente fumando segundo a Pesquisa Nacional sobre Tabaco para Jovens de 2022. Mais de 1 em cada 10 jovens adultos, com idades entre 18 e 24 anos, está fumando cigarros eletrônicos. As vendas de cigarros eletrônicos aumentaram 46,6% de janeiro de 2020 a dezembro de 2022. No Brasil, a pesquisa em escolares conhecida como PENSE revelou que em 2019, 16,8% dos escolares de 13 a 17 anos já haviam experimentado o cigarro eletrônico, sendo 13,6% nos de 13 a 15 anos de idade e 22,7% nos de 16 e 17 anos.
O movimento de mães e pais dos EUA visa proteger seus filhos dos perigos da vaporização através dos cigarros eletrônicos e do uso do outras formas de tabaco e do comportamento predatório da indústria do tabaco. Trata-se de uma estratégia de advocacy ou de ativismo em saúde que abrange diretamente indivíduos ou famílias e tem sido usada de forma muito salutar em outros movimentos de saúde, inclusive na área de álcool e outras drogas.
Existe uma literatura crescente que apoia a utilização da advocacy nos meios de comunicação social e da organização de base comunitária como por exemplo o PAVE para fazer avançar as políticas de saúde. Trata-se de uma estratégia poderosa para gerar cobertura de notícias sobre o controle do tabaco, fortalecer a política de controle do tabaco e reduzir o consumo de tabaco.
As notícias na mídia, por exemplo, promovidas pelas ações de grupos de base comunitária de advocacy trazem iniciativas políticas para as agendas públicas e dos formuladores de políticas e enquadra as questões de forma que tenham consequências para a promoção de saúde. As ações promovidas por grupos sociais de base comunitária como movimentos de mães e pais pressiona os decisores políticos para conceberem e/ou implementar soluções específicas para problemas de saúde pública.
As mães do PAVE estão fazendo muito barulho por lá ! Um dos lemas delas é “A grande indústria do tabaco mexeu com as mães erradas!”
Esperamos que iniciativas semelhantes aqui no Brasil surjam em breve, pois estamos frente a uma ameaça imensa em nosso país com a possibilidade de um projeto de lei em curso ser aprovado que visa regulamentar venda e propaganda de cigarros eletrônicos no Brasil.
Referência
https://www.parentsagainstvaping.org/
