Por Alessandra Diehl

Com a final da copa do mundo, um assunto que nos fez lembrar da sua importância pela necessidade de ganhar mais visibilidade é o uso de substâncias para melhorar o desempenho nos esportes, o qual sem dúvida é um fato que merece toda a nossa atenção. O consumo de suplementos e o abuso de drogas para melhorar o desempenho atlético estão crescendo cada vez mais em um cenário generalizado. O uso de suplementos, drogas e substâncias representam um tema complexo e ainda pouco debatido, mas que merece maior consideração tanto por esportistas quanto por profissionais da saúde.

O abuso de substâncias em esportes e competições profissionais já manchou a reputação e a posição de muitos atletas ao redor do mundo, além de claramente comprometer a saúde dos mesmos. Além disso, há também muitos casos de atletas amadores e competidores em idade escolar que também passaram a usar essas substâncias, exacerbando significativamente o quadro geral. O uso de substâncias em atletas de elite varia de acordo com o país, etnia, gênero, esporte e nível competitivo. No entanto, o álcool, a cannabis, o tabaco (nicotina), os opioides e os estimulantes prescritos são as substâncias mais comumente usadas em atletas de elite, mas geralmente usadas em taxas mais baixas do que em não atletas. Em contraste, as taxas de uso indevido de álcool, tabaco, opioides sem receita e esteróides anabolizantes são maiores entre atletas do que não atletas, especialmente em esportes de força e colisão. A cannabis e os outros canabinóides parece ter substituído a nicotina como a segunda substância mais comumente usada.

Os atletas usam substâncias para produzir prazer, aliviar a dor e o estresse, melhorar a socialização, recuperar-se de lesões e melhorar o desempenho. A imprensa, exaltou como “curioso” o caso do jogador Marcelo Brozovic, volante da Croácia, que em suas redes sociais diz “fumar de vez quando”. Em sua conta pessoal, o jogador da Inter de Milão tem registros posando com o cigarro na boca. Algumas mídias o retrataram como “incansável” e que ele teria sido o jogador com a maior distância percorrida na Copa 2022acumulando 56.262 metros nos quatro jogos que disputou no Mundial de futebol deste ano- “sem ser substituído nenhuma vez”.

Neste cenário, infelizmente, alguns falsos mitos ainda existem. Em 2017, um artigo publicado na revista mais famosa da nossa área, a Addiction por Leone e colaboradores, assinalava que o uso de tabaco é comum em alguns esportes. A nicotina é um estimulante psicomotor, e, portanto, tem alguma propriedade de melhorar o processamento de informações e a atenção em humanos. Isso levantou entre os autores a questão de saber se tal uso constitui uma droga para melhorar o desempenho, a despeito dos sabidos riscos em médio e longo prazo como a diminuição da capacidade pulmonar, além dos supostos benefícios poderem ser confundidos por efeitos de habituação e abstinência a longo prazo. O artigo já sinalizava a interrogação de que será que o tabaco (rapé, mascar tabaco e outros)usado por esportistas não seria um ‘doping legal’? Isso também levanta questões sobre se fumar tabaco e até mesmo o uso de sistemas de entrega de nicotina pura também deveriam ser proibidos em atletas.

O reconhecimento generalizado das consequências potencialmente fatais do uso de drogas para melhorar o desempenho estimulou as organizações esportivas e os governos a cooperar em muitos níveis diferentes para preservar os fundamentos éticos e a solidez das competições esportivas; o abuso de substâncias lícitas e ilícitas é, de fato, susceptível de minar o próprio cerne da equidade na concorrência. O doping, juntamente com várias formas de “trapaça”, foi registrado ao longo da história do esporte: a proibição em si é praticamente ineficaz sem estratégias de detecção confiáveis e sistemáticas e aplicação de sanções.

Uma abordagem mais crítica e informada destes temas pode apoiar o empoderamento individual respeitando os hábitos alimentares, a própria saúde e estilos de vida mais saudáveis que são incompatíveis com cigarros!

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