Por Guilherme Athayde Ribeiro Franco (*)
Doutor Mário Rigatto, gaúcho, um dos maiores pneumologistas que o país já conheceu, foi homenageado em um monumento – na cidade de Porto Alegre – que retrata a sua luta contra a escravidão causada pela nicotina [droga presente nas folhas do tabaco].
“A obra executada por Glória Corbetta apresenta um cigarro feito em aço pintado. Um grande xis vermelho simboliza a luta do médico contra o respectivo vício da nicotina. Vale ressaltar que na ponta do símbolo existe uma gravata, ela era uma espécie de marca registrada do homenageado.” [1]
Ele e tantos outros profissionais [poderia citar aqui igualmente in memoriam o médico carioca Alberto Araújo], ativistas e integrantes da classe política [independentemente do viés partidário], construíram e constroem diuturnamente mais que um monumento isolado; antes porém todo um patrimônio imaterial e normativo que é a Política Nacional de Controle do Tabaco – a PNCT.
Nosso país, lembremos com orgulho, foi um dos primeiros signatários da Convenção Quadro de Controle do Tabaco [CQCT] – o primeiro tratado internacional do direito à saúde.
E São Paulo não fugiu ao seu protagonismo.
A chamada Lei Antifumo, que completou 15 anos no último dia sete de maio e contribuiu com a redução de 20 a 30% dos eventos cardiovasculares no Estado, trouxe uma verdadeira mudança de cultura. Da proteção ao fumante em si, a quem está perto dele [o fumante passivo] e ao meio ambiente – destacaram respectivamente os doutores Ubiratan Santos e Sandra Marques – citados na matéria comemorativa da ALESP. [2]
Sem contar a proteção às presentes e futuras gerações que não querem mais servir de “reposição de estoque” de consumidores às transnacionais “necro-indústrias”.
Aliás, não por outro motivo hoje se insiste a todo custo na legalização do “cigarro de roupa nova com o mesmo tecido podre” – que é o eletrônico! Pretensão rechaçada pela Anvisa por duas vezes; em 2009 e no mês passado com a edição da RDC 855/24.
Em maio, cujo último dia [31] é dedicado pela Organização Mundial de Saúde [desde 1987] para nos alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo [hoje o termo mais adequado é nicotinismo], dirijo-me carinhosamente aos dependentes de nicotina – uma das substâncias mais letais e aditivas que há.
Procurem tratamento na rede pública, suporte com a família, amigos, grupos de mútua-ajuda, buscando também escolhas e ambientes saudáveis; e aos que pensam nas coisas do Alto, a ajuda imprescindível do Pneuma.
E por que não, ao invés de gastar o suado dinheiro com essa “arma química portátil” [seja convencional ou eletrônica], enviar qualquer quantia que seja aos nossos irmãos do RS neste indescritível e real pesadelo? Seria uma homenagem solidária ao legado do Doutor Mário Rigatto – e a todos os seus conterrâneos.
Os nossos pulmões sempre a favor da vida.
Fontes
https://arquivopoa.blogspot.com/2010/04/monumento-para-o-doutor-mario-rigatto.html?m=1 – nota adicional: prefira-se o termo dependência a vício; pois se trata de condição biopsiquicossocial e não de uma simples “escolha” do usuário.
(*) Promotor de Justiça em Campinas, associado da APMP e da ABEAD. Especialista em Dependência Química pela UNIAD/UNIFESP.