O uso da tecnologia cresce no mundo e no Brasil, mas ainda precisa ser aperfeiçoada. Como isso pode ser viabilizado e os tipos de substâncias psicoativas que podem ser tratados faz parte da discussão do XXVII Congresso da ABEAD, em setembro. 

Assessoria ABEAD

O uso da tecnologia como meio para otimizar o tratamento de dependentes químicos e comportamentais é uma prática adotada em diversas adições como álcool, tabagismo, dependência de jogos de azar e amor patológico. Ferramentas como a Realidade Virtual, Inteligência Artificial, Chatbots, Wearables, Telemedicina e os mHealths (aplicativos) são algumas que estão auxiliando as pessoas na recuperação de transtornos pelo uso de substâncias.

No Brasil, o processo ainda acontece em um ritmo lento quando se trata de mHealth ou mobile health (aplicativo), na prevenção, monitoramento e diagnóstico de doenças.  Para o especialista em Gestão de Projetos André Almeida, o atraso é significativo se comparado a outros países.

“Infelizmente estamos atrasados no quesito tecnologia quando comparados às opções disponíveis nos EUA e alguns países europeus. Temos startups ofertando produtos e serviços para saúde mental com foco em depressão e ansiedade, porém raras são as que possuem um olhar para álcool e outras drogas”, ressalta André Almeida.

Idealizador e fundador da startup My Journey Health, aplicativo que reúne ferramentas para atender profissionais, pacientes e famílias, criado em 2018, André Almeida é um dos palestrantes no XXVII Congresso da ABEAD, sobre  o uso da tecnologia e de aplicativos digitais no tratamento e na prevenção das adições.

De acordo com Almeida, existem versões importadas de aplicativos americanos em português para os pacientes, mas são limitadas. “Quando falamos de soluções que tenham o cuidado de atender profissionais e pacientes, as opções são bem escassas”, considera André que buscou na experiência pessoal os subsídios para criar o aplicativo que está há seis anos no mercado.

“Na época, quando fiquei internado por dependência química, fazia muitas atividades para limpar o corpo, colocar o sono em dia e controlar a alimentação, porque a ansiedade era meu gatilho. Passei a pesquisar tecnologias que ajudassem a manter a recuperação até chegar na configuração do aplicativo”, explica o gestor de projetos.

Os apps auxiliam na educação, na autogestão da doença, no monitoramento remoto pela equipe de profissionais envolvida no tratamento. O “My journey” reúne médicos, pacientes e familiares. Após reconhecer o estágio de dependência, o paciente recebe uma lista de atividades. Há, ainda, um “botão de pânico” que pode ser acionado em uma recaída — ele manda a localização do paciente para uma rede.

O site Psychiatric Times dá como exemplos de ferramentas e aplicativos para  problemas relacionados ao consumo excessivo de álcool e outras substâncias:

– Aplicativos de rastreamento e monitoramento;

– Aplicativos de apoio e terapia;

– Plataformas de educação e conscientização;

– Comunidades de apoio online;

– Dispositivos wearables (ex: relógios inteligentes);

– Aplicativos de alerta e SOS;

– Telemedicina e terapia online

Mas as ferramentas são consideradas apenas um complemento ao tratamento tradicional ou como uma forma de prevenção e conscientização, sendo essencial procurar a orientação adequada caso haja problemas sérios com o uso de álcool ou outras drogas.  A Associação Americana de Psiquiatria  criou um framework para que os profissionais possam avaliar os tipos de aplicativos antes de indicar para seus pacientes.

RESULTADOS COM OS APPS DIGITAIS

Para o Observatório Global de eHealth  (GOe) ou saúde digital da Organização Mundial da Saúde (OMS), dedicado ao estudo da evolução e impacto da tecnologia  nos países, o uso deste tipo de ferramenta é um aliado dos profissionais e demonstrou ser eficaz promovendo mudanças positivas como o gerenciamento de doenças, aumento do acesso a informações e serviços de saúde.

Um estudo publicado no jornal JAMA Psychiatry, sobre o uso de aplicativos de smartphone, em 2014, é um bom exemplo dos benefícios na recuperação do alcoolismo.

Em recuperação da dependência de álcool, o educador social de uma comunidade terapêutica e estudante de Serviço Social, Fabian Carvalho dos Anjos, 37 anos, considera eficaz o auxílio do aplicativo My Journey.  Fabian diz que instalou o app em março deste ano para conseguir ter mais disciplina. “Eu utilizo o app há mais ou menos 5 meses e me auxilia muito no processo de recuperação, digamos que é um estilo de vida pra mim”, garante.

As atividades viabilizadas pelo meio digital, como a anamnese relacionada à dependência do álcool e outras substâncias psicoativas, depressão e ansiedade ajudam a auto monitorar o comportamento dele.  “Em cima dessas ferramentas eu venho conseguindo me vigiar e transformar as minhas inabilidades, reconhecer onde estão e como estão as minhas emoções, auxiliando na manutenção da recuperação e ainda sendo uma ferramenta que, junto com a terapia, traz muitos resultados. Venho melhorando muito”, assegura Fabian dos Anjos.

APERFEIÇOAMENTO DO APP

O criador do aplicativo My Journey, ressalta que as evidências atuais sobre a eficácia de aplicativos mHealth para indivíduos com transtornos pelo uso de substâncias (TUS) ainda são consideradas preliminares e com fragilidades na base do estudo de caso.

“Mais estudos são necessários, com amostras maiores, por um longo período, para ampliar evidências científicas em relação às propriedades e benefícios da mHealth para o tratamento e acompanhamento de pessoas com TUS. Por esse motivo, estamos realizando uma pesquisa científica com o Ambulatório de Substâncias Psicoativas (ASPA) da UNICAMP para garantir benefícios efetivos aos pacientes, e contribuindo desta forma, com à saúde pública”, constata Almeida.

My Journey

A plataforma digital oferece recursos como monitoramento de sintomas, registro de progresso, acesso a informações e recursos educacionais sobre saúde mental, além de conexão com profissionais de saúde e comunidade de suporte. As informações inseridas no aplicativo são compartilhadas com o profissional, que através dos dados consegue trabalhar de forma mais preditiva e preventiva com os pacientes, aumentando o vínculo e cuidado e melhorando a sua qualidade de vida.

Entre os mecanismos do app está o botão SOS que compartilha uma mensagem de pedido de ajuda juntamente com sua localização, além de permitir que o paciente crie várias áreas de risco para receber alertas quando entrar nesses locais.

O aplicativo pode realizar anamneses para acompanhar indicadores de ansiedade, depressão e estresse, bem como questionários para verificar o estágio motivacional para mudanças comportamentais do paciente relacionadas a álcool, outras drogas, tabagismo e hábitos alimentares. Além disso, o usuário tem acesso a recursos como contador de tempo em recuperação, economia financeira obtida, gráfico de oscilação de humor, diário, reuniões diárias de A.A, busca de grupos de mútua ajuda, busca de profissionais especialistas em saúde mental, busca de locais de tratamentos, chats com profissionais, atividades terapêuticas e mensagens motivacionais diárias.

DEBATE NACIONAL

O XXVII Congresso da ABEAD será realizado no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, capital. A cerimônia de abertura e palestra magna acontecem na segunda-feira (04/09), a partir das 19h.

No total, no Congresso da ABEAD serão realizadas 176 palestras com profissionais especialistas e renomados de várias regiões do Brasil, referências dos setores público e privado, universidades, organizações não governamentais, organizações de assistência social, do direito, da educação e de saúde. Participam também palestrantes de organizações internacionais dos Estados Unidos, Canadá, Portugal, Argentina, México e Chile.

SOBRE A ABEAD

Atualmente, com sede em Porto Alegre, RS, a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD) reúne psiquiatras, assistentes sociais, enfermeiros, psicólogos, advogados, líderes comunitários, conselheiros, professores, entre outros profissionais, que trabalham com Transtornos por uso de substâncias e dependências comportamentais no Brasil e no exterior.

Criada oficialmente em 1989, a preocupação dos profissionais da área da saúde em relação ao álcool surgiu no final dos anos 1970, em São Paulo, como um grupo interdisciplinar. Já no início da década de 1980 realizou o primeiro encontro nacional e, em seguida, ampliou o foco de estudos para outras drogas e as dependências comportamentais.

Hoje a ABEAD é referência na discussão e implementação de  políticas de prevenção e tratamento do uso de drogas no Brasil e na América Latina. O Congresso, maior evento da associação, é realizado a cada dois anos.

Acesse https://abead.com.br e saiba mais.

Assessoria de imprensa: Phonema Editoração

Jornalistas responsáveis: Suzi Bonfim (65) 99989-4693 e Telma Elorza (43) 99106-8902

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