Por Jean Pierre Alvim
Podemos afirmar que o tratamento para pessoas portadoras de Transtornos por Uso de Substância (TUS) em instituições como Comunidades Terapêuticas (CT) ou Clínicas especializadas se divide em 3 etapas:
- a primeira etapa consiste na “desintoxicação”, na chegada do paciente na instituição;
- a segunda a é “conscientização”, quando ocorre a identificação dos problemas pessoais, prejuízos, aumenta a percepção de risco, adquirem-se mais informações através das palestras, terapia de grupo, terapias individuais. Nesta etapa a pessoa entra em contato com a realidade sobre o que é ser um adicto em recuperação;
- e a terceira etapa é a “reinserção social”, fase vital para o sucesso da sobriedade, na qual a pessoa precisa enfrentar problemas externos ao tratamento, como: conflitos de relacionamentos, prejuízos financeiros, questões de subsistência, rede de apoio, trabalho, dentre outros.
Compreendemos que, na etapa da Reinserção Social, as pessoas transitam mais nas fases motivacionais da ação e manutenção (DI CLEMENTE E PROCHASKA, 1992). Ou seja, é preciso executar o plano elaborado nas etapas anteriores e segui-lo. No entanto, planejar as ações não garante o preparo emocional para executá-las e, infelizmente, é quando acontece muitas recaídas.
As visitas familiares durante a internação, independente do modelo de serviço, podem ser consideradas uma forma de reinserção do indivíduo na sociedade. Entendendo que o histórico de abuso de substâncias, na maioria das vezes, fragiliza as relações interpessoais, incluir a família no processo de recuperação é fundamental, alem de uma possibilidade de resgate da rede de apoio fragilizada. As interações, por meio dos grupos e psicoeducação familiar preparam as pessoas para o retorno social e relacional.
Outro aspecto importante do tratamento, faz referência às chamadas “visitas terapêuticas” ou “saídas terapêuticas, momento em que o sujeito ultrapassa (de forma consensual e consentida) os “muros” de um serviço e entra em contato com a realidade. As saídas terapêuticas têm o objetivo de preparar para a alta, para que não ocorra sem o devido treinamento e preparação prévios. Esses recursos terapêuticos (visitas e saídas), gradativamente, vão devolvendo o indivíduo ao seio familiar, social e ao trabalho, é importante que as equipes acolham as famílias ou rede de apoio identificada para orientar em como lidar com os comportamentos residuais do período de uso, lembrando que podem resultar em recaída.
Em termos práticos, as saídas consistem na vivência de sensações e emoções cotidianas, junto à família, no entanto, com retaguarda de profissionais para orientar, refletir sobre a adaptação. Lembrando que, nesse período, a pessoa irá a lugares, encontrará pessoas, vivenciará contextos. Trata-se de uma estratégia terapêutica para treinar habilidades sociais durante o tratamento. Ainda em termos práticos, ao retornar à instituição, é fundamental uma avaliação da experiência. Nesse momento, a pessoa identifica como reagiu em determinadas situações, oportunizando rever algumas estratégias do PPR (Plano de Prevenção à Recaída).
A reinserção social bem dirigida por equipe multidisciplinar tem ganhos reais, diminui a probabilidade do retorno aos serviços de saúde. A identificação de uma rede de apoio segura e os grupos de mútuo ajuda, irmandades anônimas como o AA (Alcoólicos Anônimos) e NA (Narcóticos Anônimos), também são importantes na etapa da reinserção. Há ainda outra modalidade de reinserção social, geralmente chamada de nível avançado. Este ocorre após um longo período de permanência, quando a pessoa faz um investimento voluntário em se manter no pós-tratamento, por exemplo, quatro dias fora da instituição e 3 três dias dentro.
Não obstante, a pessoa continua participando de algumas atividades de conscientização, psicoeducação, acompanhamento individual para prevenção de recaída e ao mesmo tempo, um período maior com a família, desenvolvendo habilidades para lidar com outras áreas da vida, como a social, financeira, profissional, autodesenvolvimento, educação, autoconhecimento e autorregulação.
Essa modalidade visa promover uma experiência de sobriedade e de qualidade, aumentar a segurança para todos os envolvidos. Algumas inabilidades sociais e “fissura” aparecem nessa fase. O enfrentamento, acompanhado por meio de uma relação terapêutica adequada de apoio, dialógica e educativa, podem ampliar a autoconfiança e, consequentemente, a autoeficácia. Lembrando que todas as técnicas e metodologias baseadas em evidencias teóricas, experimentais ou empíricas, devem ser conduzidas por profissionais éticos, capacitados teoricamente para oferecer uma abordagem humanista, digna, centra na recuperação integral de pessoas portadoras de TUS, dentro de uma prerrogativa fundamental de que juntos somos mais potentes para enfrentar a luta, visto que a causa é de todos.
Jean Pierre Alvim
Conselheiro em Dependência Química