Autor: Mario Luiz Furlanetto Junior

A dependência química é uma doença primária grave, que apresenta etiologia com metade de sua vulnerabilidade genética, e a outra  metade corresponde os fatores psicológicas, subjetivas, familiares, ambientais, sociais e espirituais específicas, as quais geram disfunções do sistema nervoso central (SNC),principalmente no sistema de recompensa, ocasionando estados mentais patológicos, refletindo em comportamentos disfuncionais, como por exemplo, o de busca, recompensa ou alívio através do uso de substâncias(US), que associado a genética,  produzem diversas moléculas de duração variável, lesão direta com morte neuronal, neuroadaptações que causam estados emocionais negativos, mudanças significativas nas funções psíquicas e alternância de outros estados mentais patológicos, como desejo patológico, disfunções na percepção da crítica, motivação e memória. Apresentam circuitos neuronais compartilhados, que podem gerar comportamentos de vontade por ingerir doces e carboidratos de forma compulsiva, transtornos de impulsividade, dependência em jogos de azar e comportamentos sexuais compulsivos.

Atualmente há muitos estudos quem evidenciam os diversos mecanismos simultâneos da doença, que são explicados pela genética e epigenética, no qual são observáveis clinicamente além, dos problemas psicológicos e uma subjetividade adoecida. Além da (1)tolerância da quantidade dose-efeito,(2)síndrome de abstinência aguda ,(3)fissura (craving),(4) perda da inibição de controle após o US desenfreado(binge-compulsão),como a (5)Abstinência Crônica(estados hipodopaminérgicos, depressivos e ansiosos), a (6)queda motivacional súbita com  diminuição do senso de autocuidado para tratamento, após US sequencialmente, (7)fases alostáticas, e os (8)processos de recaídas – que é um processo crucial no tratamento e previne o US.

Sua etiopatogenia ainda não é totalmente conhecida, mas pacientes que apresentam um formato mental com comportamentos específicos, devido baixa produção de dopamina, como genes específicos, assim como paciente que na primeira infância, fase de desenvolvimento das vias neuronais das emoções básicas, que sofrem pela adversidade, traumas ,ausência de afeto dos pais, adquirem este formato mental de funcionamento hipodaminérgico. Incorporando esse mapa clínico, podemos avaliar ainda a subjetividade, e a verdadeira intenção, motivação de tratamento e a estrutura do sistema familiar e assim personalizando o tratamento, ganhando consciência da complexidade possível, no qual  avaliar apenas o discurso torna-se perigoso.

Essa mente sempre oscilante na dualidade, devido à insegurança não desenvolvida na primeira infância, o qual reflete um padrão comportamental esperado em intensidade variada, onde a experiência , individualidade, e subjetividade estão somados, a uma clínica por contínuas vivências de dualidades, ansiedade, hedonismo, baixa capacidade de controle inibitório, hiperatividade, estados hipercinéticos, impulsividade, busca por novidades, automatismos, déficits de relacionamentos interpessoais, respostas emocionais disfuncionais, intolerância a dor, hiperatenção, desordem e aumento do ritmo de pensamentos, afinidade por estimulantes como cafeína, esportes radicais.

A Recaída é um processo genético, neurológico, psiquiátrico, atualmente muito estudado pela neurobiologia, no qual pode começar instantes antes do US, como semanas antes, é caracterizada, por mudança do estado mental basal, para patológico que leva sempre ao US, apresenta clínica específica, como também genética específica, que pode iniciar com mudança do comportamento, redução da motivação de tratamento, alteração da realidade interna com sofrimento psíquico, ilusão, autoengano, que podem ser facilmente percebidos pelos familiares, profissionais e pelo paciente, que usam habilidades ,para retornar ao estado basal. Devido a produção e queda de moléculas duradouras, o processo de Recaída acontece de 3 em 3 meses, cessando em 2 anos, trazendo esperança aos familiares e ao paciente, e então avaliar apenas o discurso do paciente torna-se perigoso.

Não menos importante, também estão a contagem do calendário psicopatológico e dos treinos de habilidades emocionais, com objetivo de se manter abstinente e não ativar mais produção de moléculas, identificando o estágio atual da doença, considerando seu momento emocional. A psicoedicação do paciente e seus familiares, junto a autobservação, para identificação de estados mentais patológicos reversíveis são fundamentais para o caminho da sobriedade, e para isso, o paciente precisa estar com a “mente mais lúcida” possível, e menos neurointoxicada para realizar o tratamento de forma consciente. Isto irá ajudar o paciente a refletir, observar e mudar, ou seja, ativar estas capacidades que outrora pareciam impossíveis aos pacientes em estágio de “pré-contemplação crônica”.

 

Fontes:

Nunes EV, Kunz K, Galanter M, O’Connor PG. Addiction Psychiatry and Addiction Medicine: The Evolution of Addiction Physician Specialists. Am J Addict. 2020 Sep;29(5):390-400. doi: 10.1111/ajad.13068. PMID: 32902056.

Birnie MT, Kooiker CL, Short AK, Bolton JL, Chen Y, Baram TZ. Plasticity of the Reward Circuitry After Early-Life Adversity: Mechanisms and Significance. Biol Psychiatry. 2020 May 15;87(10):875-884. doi: 10.1016/j.biopsych.2019.12.018. Epub 2019 Dec 24. PMID: 32081365; PMCID: PMC7211119.

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