Por Selene Franco Barreto 

O início do ano é sempre uma boa época para planejamento de metas. Embalados pelo desejo de mudanças e dias mais prósperos, as pessoas estão introspectivas e propensas a começar um novo ciclo. É o momento de rever hábitos e investir em transformações que podem interferir na qualidade de vida. Pensando nisso é que o primeiro mês do ano foi escolhido para a campanha Janeiro Branco, que visa a conscientizar a população sobre problemas relacionados à saúde mental.

Idealizada pelo psicólogo mineiro Leonardo Abrahão, em 2014,a ideia da campanha é sinalizar que em janeiro temos uma página em branco para ser escrita e que ela pode ser preenchida por medidas que ajudem a combater o adoecimento emocional e derrubar tabus e preconceitos sobre esse tema (JANEIRO, 2023). Afinal, passadas as festas de fim de ano, restam a intenção de nos reconciliarmos com os nossos dilemas pessoais, a necessidade de retomarmos projetos para dose acomodarmos todos os sentimentos suspensos ou ignorados, entre eles a ansiedade de fazer o novo ciclo dar certo. Como passar da euforia das confraternizações e presentes à realidade frenética que se impõe no dia a dia? Para isso precisamos parar e refletir sobre nossos comportamentos, sem entrar no automatismo.

Em junho de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório com dados alarmantes: quase um bilhão de pessoas no mundo demonstraram sintomas de algum transtorno mental, que é a principal causa de incapacidade do indivíduo – e essa situação foi agravada pela pandemia de covid-19. Quem sofre com esse tipo de problema morre em média 10 a 20 anos mais cedo (OPAS, 2022). Essas informações reforçam a importância de ações concretas e comprometimento de profissionais, empresas, instituições e autoridades na busca por recursos e caminhos que promovam mudanças nesse quadro.

No Brasil, a depressão, a ansiedade e a síndrome do pânico são os principais problemas que afligem a população. Entre eles, a depressão é o mais recorrente, sendo também a mais comum no mundo – já considerada pela OMS como o mal do século. Esse tipo de transtorno interfere na capacidade do indivíduo desempenhar ações corriqueiras, como dormir, trabalhar, comer e se relacionar com outras pessoas (OPAS, s/d).

Entre os obstáculos para o diagnóstico e tratamento dos transtornos mentais estão o preconceito e a desinformação. Durante muito tempo persistiu a ideia de que saúde mental estava associada à doença mental, fazendo com que alguns sintomas fossem ignorados e as pessoas não procurassem ajuda. Hoje sabemos que há uma variedade de características que apontam para o esgotamento mental e que elas devem ser um alerta. Afinal, um indivíduo mentalmente saudável é capaz de lidar com os desafios cotidianos de forma equilibrada, mantendo um bom convívio social, reconhecendo seus limites e sabendo que pode buscar auxílio quando tem dificuldade para encarar um sofrimento incapacitante.

O diagnóstico e a oferta de tratamentos adequados ainda são deficitários em muitos lugares. É fundamental que a pessoa afetada possa se sentir à vontade para buscar auxílio e encontre acolhimento. Muitas vezes o ambiente de trabalho é o local onde ela passa a maior parte do seu tempo e, portanto, também o lugar em que pode ser orientada e encaminhada para assistência especializada. Em muitos casos, é o próprio trabalho o estopim para o surgimento de algum transtorno, como, por exemplo, a Síndrome de Burnout.

Daí a importância de empresas estarem atentas às demandas dos funcionários, mapeando as necessidades, investindo em conscientização, prevenção, prezando por um ambiente saudável e contando com profissionais capacitados para diagnosticarem e tratarem corretamente o problema. Isso irá garantir inclusive uma instituição alinhada com a Agenda 2030 da ONU, que é um pacto assinado por 193 países e que visa a superar os principais desafios de desenvolvimento enfrentados pelo mundo todo. A Agenda é composta por 17 objetivos interconectados, entre eles o ODS 3 – Saúde e Bem-estar, que propõe assegurar uma vida saudável e o bem-estar de todos.

Em algumas circunstâncias, o indivíduo busca apoio para aliviar as dores emocionais no álcool e em outras drogas, sendo que alguns acabam se tornando dependentes dessas substâncias. Ou, por conta de outros fatores de risco, começa a fazer uso abusivo de álcool e outras drogas e isso afeta diretamente sua saúde mental.  De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2022), o atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) a pessoas com transtornos mentais por uso de álcool e drogas aumentou 12,4% em 2021.

Por tudo isso, campanhas como o Janeiro Branco são essenciais, principalmente nas empresas: elas orientam, inspiram e conscientizam as pessoas por meio de palestras integrativas e informativas, rodas de conversas, que devem ser preferencialmente pensadas pelo Programa Assistencial ao Empregado e à Empresa (PAEE), além de outras ações que ajudam a disseminar conhecimento. O mês de janeiro deverá ser só o início de um trabalho que você e sua empresa podem perpetuar o ano inteiro. Saúde mental é um direito de todos!

10 atitudes para um mundo com mais saúde mental

(segundo o site www.janeirobranco.com.br)

  • Políticas públicas para a saúde mental e condições sociais dignas de existência
  • Prática de exercícios físicos e de hobbies terapêuticos
  • Autoconhecimento
  • Qualidade de vida
  • Vínculos sociais profundos
  • Abertura a novos conhecimentos
  • Espiritualidade saudável
  • Contato com a natureza
  • Autonomia
  • Sentidos próprios de vida

Vamos iniciar 2023 com o tema proposto pelo movimento Janeiro Branco: A VIDA PEDE EQUILÍBRIO!

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