Precisamos de ampliação da rede de atenção para eficaz redução da mortalidade por suicídio no Brasil.

Por Alessandra Diehl

O dia 10 do mês de setembro é oficialmente o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Porém, a iniciativa pode e deve acontecer durante todo o ano. Atualmente, o Setembro Amarelo® é a maior campanha antiestigma do mundo! O Setembro Amarelo é uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio implementada em 2015. Em 2023, o lema é “Se precisar, peça ajuda!” e diversas ações já estão sendo desenvolvidas.

No entanto, apesar de vários esforços desta campanha nacional, a sua eficácia na redução da mortalidade no Brasil ainda é muito reduzida. Alguns estudos começam a despontar na literatura chamando a atenção de que campanhas focadas apenas em publicações na mídia geram resultados infundados quanto à redução efetiva do número de mortes por suicídio e a falta de iniciativa nas ações multissetoriais pode explicar o impacto baixíssimo na mudança das mortes por suicídio no Brasil.

Para se ter uma ideia, no Brasil, houve aumento nas taxas anuais de mortes por suicídio entre 2011 e 2019, com 4,99 e 6,41 suicídios por 100 mil habitantes, respectivamente. A hipótese nula, de que a campanha nacional do setembro amarelo não alterou a tendência histórica de crescimento dos suicídios no Brasil após sua implementação, foi afirmada. No entanto, verificou-se um eventual aumento significativo de 6,2% no risco de mortalidade em 2017 e de 8,6% em 2019 (Cruz et al., 2023).

Um estudo quase experimental conduzido por Damiano et al., (2023) utilizando dados populacionais do DATA-SUS, selecionando apenas mortes autoinfligidas voluntariamente (CID-10 X60-X84),  avaliou todos os dados disponíveis de 2000 a 2019, excluindo 2020, 2021 e 2022 devido à pandemia de COVID-19, para avaliar tendências antes e depois da campanha nacional do Brasil conhecida como Setembro Amarelo. No geral, houve um aumento progressivo na taxa de número relativo (por 100.000 habitantes) de suicídios ao longo do tempo entre 2000 e 2019 (aumento de 57%). Uma análise do Joinpoint detectou uma mudança na inclinação da curva que representa uma aceleração nos suicídios começando no ano de 2015, que se alinha com o ano seguinte ao início da campanha. A análise da descontinuidade de regressão revelou que o ano em que o Setembro Amarelo começou, alterou significativamente a inclinação da associação entre tempo e taxas de suicídio (interação<0,001), e a análise marginal detectou que o coeficiente aumentou de 0,49 (IC95% 0,41-0,57) para 1,39 (IC95% 1,08-1,65) suicídios/ano por 100 mil habitantes, conforme ilustra a figura de gráfico abaixo:

Os resultados deste importante estudo de Damiano e colegas mostra um aumento nas tendências suicidas no Brasil, na contramão da tendência global que coincide com o início de uma grande campanha nacional de conscientização. Embora não se possa atribuir causalidade, os resultados reforçam a necessidade de mais estudos para melhor compreender o papel de campanhas de conscientização em intervenções para redução do suicídio, incluindo potenciais efeitos. Os resultados  também são consistentes com a literatura, que propõe que a falta de iniciativa nas ações multissetoriais pode explicar o baixo impacto da campanha nacional do setembro amarelo na mudança das mortes por suicídio. O desenvolvimento de novas linhas de ações dentro desta campanha focadas na formação de profissionais e na ampliação da rede de atenção com diagnóstico precoce de transtornos mentais e acesso a tratamento adequado e com brevidade poderá torná-lo um instrumento eficaz na redução da mortalidade por suicídio.

Referências

Cruz WGN, Jesuino TA, Moreno HF, Santos LG, de Almeida AG.Impact Analysis of the Brazilian Suicide Prevention Campaign “Yellow September”: an Ecological Study. Trends Psychiatry Psychother 2023 Apr 3.  doi: 10.47626/2237-6089-2022-0564. Online ahead of print.

Rodolfo Furlan Damiano1 M.D., PhD., Loren Beiram1 , Bianca Besteti Fernandes2 M.D., Maurício Scopel Hoffmann3,4,5 M.D., PhD., Alexander Moreira-Almeida6 M.D., PhD., Christian Rück8 M.D., Ph.D., Hermano Tavares1 M.D., PhD., André R. Brunoni1 , M.D., Ph.D., Euripedes Constantino Miguel1 M.D., PhD., Paulo Rossi Menezes9 M.D., PhD., Giovanni Abrahão Salum M.D., PhD. Associations between a brazilian suicide awareness campaign and suicide trends from 2000 to 2019: joinpoint and regression discontinuity analysis Suicide awareness campaign in Brazil. Lancet 2023, 0n line ahead do print.

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